terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Feliz Mesmo Ano


Então é Natal, a festa cristã! (Já foi!)
Feliz Ano Novo. (Novo?)

Eu, chato que sou, acredito que Natal e Ano Novo são dias como os outros, passam em 24 horas. É claro que, uma vez que estamos em fragmentações infinitas da sociedade, um novo ano representa um ano a mais nos estudos, um a menos no tempo de serviço, um perdido pra quem perde alguém, um ganho pra quem acerta os números da Mega Sena (este caso será o meu) etc. 

O sentido do Natal, aliás, é este mesmo que todo mundo vive, e não tem outro. Parem de falar que "as pessoas não conhecem o verdadeiro sentido do Natal"; a diferença é que alguns acrescentam trinta minutos de mensagem falada por "alguém que sabe do que fala" aos mesmos rituais sociais, morais e comerciais de todo mundo. Parafraseando Cauê Moura, se tem comida e presentes, todos aproveitam: ateus, cristãos ou judeus. Se você não morrer antes da meia noite destes dias, passá-los-á da mesma forma que todo mundo . 

A minha questão é:

[...] não desejo 24 horas de felicidade nos demais dias do ano, não precisa ser diferente no dia 25 de dezembro. O que desejo neste dia é que os rituais se estendam aos demais dias do ano. Isto sim seria legal. Desejo que você continue misericordioso durante o ano, que toda essa fartura e desejo de compartilhar continuem. Desejo Dádivas (dar, receber e retribuir). Desejo os sorrisos deste dia. a continuidade no dia 25 no dias 26, 27, 28... 

Assim também desejo no "Novo Ano". O Ano Novo é apenas o marco inicial de mais uma de nossas fragmentações  harmonizadoras da sociedade - precisamos dividir para não nos perdermos no espaço-tempo. A verdade é que são poucas horas, minutos e segundos de vibração. O que eu desejo neste dia? Continuidade. Mas poxa vida! Por que não desejar novidades?

Não quero desejar o novo, pois o novo pode representar o fim de algo ou a necessidade de recomeçar. Recomeçar, tal como terminar, é algo muito dolorido que exige de nós uma força extra. A continuidade é um dom de quem é bem planejado, de quem pensa no futuro o tempo todo, sem deixar de lado o presente ou desprezar o passado. A continuidade é exclusiva de quem não deixa para planejar na contagem regressiva as futuras frustrações advindas dos impulsos de uma mente bêbada (de água benta ou profana) e cativada pela emoção da contagem regressiva (ou oração progressiva). Eu resolvi parar com o desgaste dos projetos de um ano que nasce em 10 segundo. Perder peso, parar de beber ou fumar, praticar esportes, concluir ou começar projetos, estabelecer-se ou restabelecer-se amorosamente, dentre outros projetos, só serão eficazes se forem frutos da continuidade. 

Como vai o natal hoje, 27 de Dezembro? 
Você não me ligou desejando um dia feliz, creio que o sentimento já passou. :( 
Que pena!

Se for preciso recomeçar algo, meus pêsames, irá doer.
Porém, Feliz Novo Ano. 

Conhece-te a ti mesmo, e verás que tens algo a continuar!


Deixo aí a "Receita de Ano novo"
Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo [...] não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumidas, nem parvamente acreditar que por decreto de esperança a partir de janeiro as coisas mudem. [...] É dentro de você que o Ano Novo  cochila e espera desde sempre.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A magia de quem volta (continua) a ser criança


Velhinhos são crianças nascidas faz tempo... (O Teatro Mágico)
(Depois reposto com imagens) 

Conheço velhos rancorosos. Estes trazem no olhar e nas mãos as profundas e duras marcas da vida. Não sorriem, zangam-se, esbravejam e dizem palavrões. Não são loucos, são conscientemente infelizes. São chatos que não conquistam o próprio neto, conquistam o desejo mórbido das noras e genros, dão medo, são bruxos. Reclamam da vida o tempo todo; de todas as suas décadas de injustiças. Desrespeitam o próprio corpo, correm, apressam-se em ir e voltar. Suas sentem e ressentem suas duras dores. Negam a todos a ternura que guardam para seus animais, e só, sozinhos. Não encontram cor na vida; ela é sombria, e ponto. Cospem no chão, na cara, no prato, na pia, na cama, na cova. São gastados pela vida, desgastados pela própria mente, desgostosos de si mesmos.

Do outro lado há as velhas crianças que se tornam mais crianças a cada dia. Para estas a dor é só um corte passageiro. Vivem a sorrir e cantar. Falam comigo e falam sozinhas. Caminham vagarosamente pelos jardins. Não têm pressa do tempo que ainda não veio. Não têm remorso do tempo que então  já se foi. Não tem gatos, tem gente que está sempre sorrindo, admiradas. A morte é um tormento somente da gente que rodeia esta gente sã.

Estas velhas crianças contam, sorrindo, as intempéries da vida; choram, sorrindo, ao lembrarem-se do momento que agora revivem: a doce infância. A morte não consegue lhes sinalizar a vinda nem mesmo nas tantas dores. A alegria lhes produz morfina. Suas histórias acalentam até os ouvidos mais apressados. Suas orações são conversas que nos fazem abrir os olhos e procurar uma terceira pessoa ao redor. Sua bênção tem cheiro e cor. Sua voz baixa nos faz aproximar os ouvidos, mas é um truque, elas querem que encostemo-nos nelas, são efetivas no afeto.

Sabe qual a única semelhança entre essas velhas pessoas velhas? Ambas se construíram ao longo da vida. Concluo que, de fato, quem não for como uma criança não ganhará um doce quando ficar velho, mas sentirá a morte mais amarga a cada dia. A Morte é doce, é o presente da vida!

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O Filho da Mãe

Google Imagens

Tem gente que está do mesmo lado que você, 
mas deveria estar do lado de lá... 
(Renato Russo)


João foi filho da Dona Maria por muitos anos. A Dona Maria o amava muito, seus abraços eram aconchegantes, sua vida estava protegida - Édipo e Jocasta. João cresceu e foi estudar na cidade do pai na intenção de dar um bom futuro para sua mãe. Mas chegando lá descobriu, aos poucos, que o carinho de sua mãe era um tanto quanto duvidoso e que todo esforço dela o cegara, não o permitindo ver alguns de seus comportamentos inumanos.

Ao concluir a faculdade João foi recebido com aquele abraço - já não retribuído igualmente. João bem que tentou, mas percebeu que seu amor pela mãe estava regado de desconfianças e, pior, começou a face multifacetada da mãe transparecia a cada objeto que ele encontrava nas gavetas que revirava. 

Que tragédia!
Coitado do João!
E agora Dona Maria?

Não tardou muito e João descobriu os amantes da mãe, suas prostituições e o fascínio que ela tinha pelo desprezo de quem não estava ao seu lado. O desejo de sempre adotar mais um filho revelara o amor condicional. 

Nossa! Que sofrimento, João. 

O que ele poderia fazer? Quem era sua mãe? Ela sempre fora assim? Sua visão estava condicionada?


Então João desistiu se afastar. Disse "adeus, preciso migrar para redescobrir quem somos". João bem que tentou deixar as portas abertas para sua volta, mas a mãe ficou inconformada com o abandono e, fechando-as, colocou muitos de seus irmãos contra o rebelde João. Ah, vale lembrar que alguns irmãos mantiveram contato e, ainda que fingissem, pareciam ainda amar o irmão João. 

O filho saiu a experimentar todas restrições que a mãe lhe impusera durante anos. Ficou ora decepcionado, pois não encontrara todo a perversidade para qual estava preparado, ora alucinado pela Aurora Boreal que estava além do horizonte até então ocultado. João descobriu que tudo era belo do lado de lá.

João fascinado começou a se esquecer da mãe. 

A esta altura do campeonato Dona Maria estava enfurecida. João não era mais o "joãozinho", era João, o ingrato esbanjador que iria "quebrar a cara" em algum momento da vida e veria que não havia abrigo mais seguro que debaixo de suas asas protetoras. Alguns dos fiéis filhos da mãe praguejavam dia e noite - quanto desperdício de energia.

Aliás, João percebera que alguns dos filhos da mãe também estavam incomodados com a mãe havia muito tempo, mas eram dependentes demais para deixar um amor tão cômodo. Alguns destes filhos ficaram em casa com muito ódio do João, o ingrato, pois ele ousara fazer o que estes sempre quiseram, mas nunca tiveram forças para desafiar a mãe, procriaram e deram a ela netos e bisnetos. 

Os indignados filhos da mãe anunciavam a qualquer transeunte que os tumores da mãe  (alguns mais velhos que os próprios filhos) eram frutos do filho sofrimento causado pelo filho ingrato. Mais desperdício de energia. O fato é que sempre houvera uma condição tácita no amor da Dona Maria. E, infelizmente, até que outro filho saia a explorar o mundo ou outro volte e atenda aos anseios doentios da mãe, João seguirá como ingrato, mas muito bem resolvido - acredito.

domingo, 30 de outubro de 2011


Perdi vinte em vinte e nove amizades 

por conta de uma pedra em minhas mãos. 

Me embriaguei morrendo vinte e nove vezes, 

estou aprendendo a viver sem vocês 

Já que você não me quer mais


Passei vinte e nove meses num navio 

e vinte e nove dias na prisão. 

E aos vinte e nove, 

com o retorno de Saturno, 

decidi começar a viver. 


Quando você deixou de me amar 

aprendi a perdoar e a pedir perdão. 


E vinte e nove anjos me saudaram, 

e tive vinte e nove amigos outra vez. 


(Renato Russo)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Gente Humilde

Tem certos dias em que eu penso em minha gente e sinto assim, todo o meu peito a se apertar [...] e aí me dá uma tristeza no meu peito, feito um despeito de eu não ter como lutar [...] e eu que não creio peço a deus por minha gente, é gente humilde, que vontade de chorar. (Chico Buarque)

Não quero aqui discutir a parte que mais chamaria a atenção de algumas pessoas que lêem este blog: o ateísmo de Chico Buarque, ou o meu, como insistem. Na discussão medieval sobre o crer ou não, lutar e matar em favor de uma crença, esquecem-se da “gente humilde que não tem onde morar”. Jesus não se esqueceu desta gente! Já é a segunda noite de sono que perco pensando no caos do país que se pretende  primeiro mundo. Pode até parecer paranóia ou falso sentimento social, mas não consigo receber as notícias de tragédias sociais prenunciadas e dizer simplesmente “foda-se” (queria que fosse assim). Eu não digo que tudo está uma porcaria em nosso país, sei que o governo tem bons projetos sociais e políticas públicas; mas... Com Roberto Carlos compartilho a canção que diz “[prossigo] na fé que me faz otimista demais” (Emoções). Mas temos muita coisa a socorrer.

Passei há pouco pela rua, quando vi uma senhora caminhando com um pão recheado com "sei lá o que" e um copo de leite. Ela se dirigiu até um rapaz negro, provavelmente com pouco mais de 25 anos, mas que aparentava estar próximo aos quarenta, e os deu a ele, que aceitou alegremente e, talvez, já pensando nas mãos que lhe dariam o almoço. Há um dia recebo a notícia de que uma mãe morreu de forma precária, deixando seus filhos ao vento. Há menos de um mês outra mãe morreu atropelada, enquanto dormia bêbada entre a rua e a calçada. Uma mãe acorrentou a filha viciada que fora rejeitada pelas políticas sociais e foi presa. Um pai, vendo seu filho roubando, espancou-o até a morte. A esposa, vendo seu marido destruindo suas vidas com o alcoolismo o envenenou. Um pai viúvo, em consequência à rebeldia do filho que tinha como única obrigação os estudos, arrastou-o seminu pelas ruas. Filhos da puta ateiam fogo a um sem teto. E por aí vai...


Estudo Ciências Sociais não na esperança de salvar o mundo, mas de levar a "alta sociedade" à crítica dos valores que permitem a ascensão de poucos e a ruína de muitos. Milton Santos diz que “enquanto muitos dormem com fome, outros poucos não dormem pela fome de alguns”, eu ainda diria que enquanto muitos morrem de fome, outros tantos, economicamente obesos, trabalham em favor da fome de alguns. O capitalismo tem tudo pra ser um sistema justo, dando ao homem, independentemente de ser naturalmente afortunado – como diria Maquiavel – ou não, condições para sua ascensão, felicidade, saúde, prazer etc. Mas muitos se utilizam de tal sistema para alimentar a própria ganância através da exploração e privatização dos bens naturais e comuns a todos; vêem cegamente pessoas que não podem comprar até mesmo a água que os monopolizadores vendem, por exemplo. Não é o sistema que acaba com os homens, são os homens que moldam o sistema à sua imagem e semelhança.

Os Direitos Sociais (Capítulo II da Constituição da República Federativa do Brasil) são constantemente legados ao governo, lavando as mãos da sociedade. Mas não pode ser assim. Temos políticas públicas que proporcionam o básico para estas pessoas, mas a humanidade do homem se dá quando este se volta para o próprio homem e não para o próprio ser. E o conceito de básico passa longe das ambições de muitos. Ser ou não ser, eis a questão? Penso, logo existo? Caros William Shaksperae e Descartes, nada somos ou existimos se somente divagarmos sobre nossa própria existência!

Lutamos por nossos interesses enquanto membros de alguma minoria, porém não gritamos em favor dos que estão emudecidos pela fome e outras tantas injustiças. Adoecemos e até morremos estressados por não conseguir atender as exigências sociais e não percebemos que o vício dos viciados são antidepressores do sistema nervoso chamado sociedade egoísta - e não capitalismo. A salvo daqueles que mesmo carregados de oportunidades optam por lesar a sociedade (e estes deveriam ser retirados dela até que se provasse psicológica, biológica e socialmente sua readaptação), criamos com nossas próprias mãos os nossos salteadores. Não estou justificando qualquer crime daqueles que têm pouca coisa na vida, antes, estou dizendo que é possível melhorarmos as coisas a tal ponto de fazer com que o crime não seja mais uma saída para a sobrevivência. 

Somos vítimas do nosso próprio egoísmo que destrói o nosso coração (Será – Renato Russo).

sábado, 3 de setembro de 2011

O Medo Nosso de Cada Dia

É pena que você pensa que eu sou seu escravo, 
dizendo que eu sou seu marido e não posso partir... 
(Medo da Chuva - Raul Seixas)

... mas é assim mesmo que o medo faz com a gente: somos seus maridos e ele não nos deixa partir. Das muitas pessoas que já compartilharam suas vidas comigo, constatei a presença desta pequena tortura, o medo. O medo do que "vão pensar de mim" é um dos maiores deles. A busca por corresponder aos valores da sociedade é fruto de um medo, o medo de ser diferente. Muitos, dentro e fora do contexto eclesiástico em que vivi, são movidos pelas aparências. Certa vez um professor de psicologia perguntou à minha turma de teologia: quais as máscaras que vocês usam? 

Não estamos alienados aos meios em que vivemos. Somos formatados e formatamos com as "manias" próprias de cada contexto. No "mundo" familiar somos cheios de manias e sentimentos próprios: perceptivelmente ou não, vivemos como os nossos pais (Belchior). No mundo religioso o mesmo acontece, costumeiramente de forma mais severa. 

Neste somos formatados por uma família muito maior e vivemos sob expectativas o tempo todo; expectativas de cumprir os mandamentos de Deus, o qual dias é apresentado como castigador, dias como agraciador. Todos dizem saber o que ele pensa, o que ele quer, o que fará, o que ele quer dizer e o que diz, sente etc. E não digam que eu não entendo que castigo e graça vivem juntos; o castigo religioso, na maioria das vezes, não é graça divina, mas incompreensão e puritanismo humano. Não acredito num "maléfico castigo divino", mas sim nas consequências naturais e proporcionais aos erros.

Fora destes dois ambientes vivemos no mundo dos trabalhos, estudos, namoros etc. Tudo isto pode servir de "combustível" para nossos medos. Estes outros grupos nos convidam a comportamentos que muitas vezes são conflitantes com os religiosos (todos temos princípios religiosos - institucionalizados ou não) ou familiares. Então nos adaptamos ao meio. Isto não é mal e é comum. Porém há alguém dentro de nós que é o que é em qualquer lugar, e é este alguém que não podemos deixar morrer envenenado pelo medo de ser quem ele é aonde quer que estejamos.

Estou falando mais uma vez, aqui neste blog, de liberdade, libertação, libertinagem! Liberdade pra dentro da cabeça (Natiruts), pois é lá que se encontram as nossas maiores prisões. É lá que encontramos os medos de começar ou terminar um relacionamento que têm um futuro misterioso ou um passado desastroso. É lá que encontramos as dificuldades em terminar um relacionamento que só causa sofrimentos, mas que porém foi o que "abriu as portas" para um novo prazer da vida. É lá que está o medo de tentar novamente com outras pessoas e sofrer tudo outra vez, ou, quem sabe, não ser melhor e sim pior que o anterior. Expectativas!

O medo de dizer "não quero mais" habita ali também. Quando somos dominados por este vivemos infelizes, fazendo aquilo que não gostamos ou concordamos, pois, caso façamos isto, as pessoas sofrerão (isso chega a ser presunção). Mas essa de sofrer para que os outros fiquem felizes é um martírio utópico demais. Se você está infeliz, fará tudo pela metade. Não serás inteiro contigo e com os demais.

Não encontrei o autor desta imagem,
se alguém souber me avisa, por favor.
Eu convivi e conversei com algumas pessoas com uma das maiores prisões da humanidade inserida em uma humanidade "nojenta" (não encontrei outra palavra): o medo de extravasar seus impulsos sexuais. (Acho que isto tende a mudar!). Tudo muda o tempo todo no mundo e as coisas se renovam à medida que o homem toma a consciência de que seu corpo é feito de prazer em cada célula. Não me refiro somente à homo, bi, "tri", "octossexualidade", mas sim à liberação de quem você é, até mesmo com seu relacionamento sexual "normal". Escravizando-se a este medo você não é completo, mais uma vez, e provavelmente está colocando alguém "inocente" nesta história toda, a fim de manter sua "boa reputação".

A filosofia de Heráclito nos mostra que "um homem não se banha duas vezes em um mesmo rio, pois na segunda vez ambos não serão mais os mesmos". Contudo, entendo que somos um mosaico que agrega novas peças a cada momento da vida. O rio também. Ele não é o mesmo, mas já esteve em outro lugares e não deixou de existir, levou e deixou algo em nós e nas fendas por onde passou.

Eu só quero dizer com isto que "não há nada de novo debaixo do sol" (Salomão) e que "o sol vai voltar amanhã" (Renato Russo). Se tudo se modifica, também se eterniza no tempo, eternizando o próprio tempo. 

Ah, há tantos medos que tenho medo de entregar a você os meus medos continuar falando sobre o medo. E se lembrem que "medo é diferente de prudência".



Se Liga Aí
Gabriel O Pensador

A gente pensa que vive num lugar onde se fala o que pensa. 
Mas eu não conheço esse lugar. 
A gente pensa que é livre pra falar tudo que pensa, 
mas a gente sempre pensa um pouco antes de falar!

Mas não adianta só pensar. 
Você também tem que dizer! 
Mas não adianta só falar. 
Você também tem que fazer! 

Deixe ele viver em paz. 
Cada um sabe o que faz. 
Deixa o homem ter marido. 
Deixa a mina ter mulher. 
Cada um sabe o que quer. 
O que é que tem demais cada um ser o que é? 

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Nossa vã Filosofia

Entendam somente que eu brinco com as palavras...

Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas,  (Colossenses 2.8) e [...] não te estribes no teu próprio entendimento (Provérbios 3:5). Saiba que "ninguém vai me tirar, a alegria de viver; pode tudo acontecer, nada me fará afastar da esperança; só através do amor, o homem pode se encontrar com a perfeição dos sábios; uma ambição maior, mais do que pode supor: o império da razão; toda vã filosofia" (Roberto Carlos).




Para quem não sabe ou ainda não percebeu, eu era, até bem pouco tempo atrás, aspirante ao ministério pastoral presbiteriano. Todo processo durou cinco anos. Em 2004 (aos 17 anos) me apresentei como candidato, 2005 cursei o CPO (Curso Preparatório de Obreiros) em Patrocínio (MG) e de 2006 a 2009 estudei Teologia no Seminário Presbiteriano do Sul (Campinas - SP), depois, em 2010, permaneci por mais um ano, já licenciado, como auxiliar na Igreja Presbiteriana de Boa Esperança (MG). Não desprezo nenhum destes momentos. Tenho algumas críticas à precocidade de todo processo, porém sei que sou o que sou e estou aonde estou por causa de todo este processo. E, contrário ao que muitos pensam, sou imensamente grato a todos aqueles que fizeram parte deste processo. Mas, como não é novidade para estes, desisti do objetivo inicial de todo este processo.

Aqui mesmo neste blog eu já havia dito que uma hora falaria um pouco mais sobre essa minha "desistência", mas eu percebi que é muito complexo simplesmente se definir como membro de um novo grupo (materialista, ateu, cético, ateísta etc). Aliás, a última coisa que quero na vida são rótulos e bandeiras, mesmo sendo quase impossível não sermos rotulados ou ainda levantarmos bandeiras. Enfim, como diz o bom ditado, o buraco é mais embaixo.

Tentando não ser tão prolixo...

Tudo muda o tempo todo no mundo (Lulu Santos), ao mesmo tempo em que não há nada de novo debaixo do sol (Salomão). Mesmo ainda com meus vinte e poucos anos eu já percebo que a vida é uma imensa metamorfose cíclica, que nós somos formatados e reformatados a todo instante, não estamos imunes ao meio, somos um mosaico vivo, formados e reformados a cada amanhecer, nova leitura, música, paixão ou respirar. Eu não sou diferente disto, sou diferente e igual a todo mundo. Só.

Na análise de bons, ternos e eternos amigos, eu sou um daqueles que se deixaram levar pelas "vãs filosofias" e que se "estribaram em seu próprio entendimento". Mas como ser indiferente ao conhecimento dos sábios? Impossível. Chegou um momento eu que eu olhei "nos espelhos" que me ceravam todos os dias e vi quem eu deveria ser e o que as tantas pessoas esperavam de mim, isto acontece a todo momento, dentro ou fora do mundo religioso, porém, dentro dele, isto é mais saliente. O tempo todo você está preocupado em ser o modelo de pessoa que todos esperam que você seja, muitos esquecem-se até mesmo dos próprios ensinamentos "sagrados" que dizem seguir e simplesmente projetam em você toda a divindade que não existe neles. Isto é comum ao sacerdote, ele é o "contrário inverso" do mal que há em mim, ele é sacralizado, santo e imaculado. Este não era eu. 

Eu não era o Josimar de Souza Silva, eu era o Josimar da Maria, João, José, Instituição etc. Eu cria em coisas simples e poucas e aos poucos minhas pregações circulavam sobre coisas simples e poucas, virtudes simples que poderiam ser encontradas no mais duro coração, sem a necessidade de uma extraordinária conversão. As muitas e complexas não faziam parte do meu vocabulário e este era um grande problema, eu tinha que seguir O Vocabulário Programado.

Aos poucos o Josimar de Souza Silva foi exigindo, cada vez mais alto: hey, eu nasci primeiro, não posso ficar aqui trancado, deixe-me sair. Os "Josimares" de foram exclamavam: você é mal, fique aí, o mundo é melhor sem você, as pessoas gostam mais de nós/mim.

É claro que os Josimares não eram maus, mas no mínimo opressores do Josimar. O Josimar, por sua vez, um escravo conformado. Mas como "ignoratia legis neminem excusat", o Josimar também era parte daquele todo e jamais poderia alegar inocência ou ignorância.

Será? Não sei, ainda é cedo para definir. Será?

O fato é que como eu também "acredito que errado é aquele que fala o correto e não vive o que diz" (O Teatro Mágico), então eu morri. Caso o contrário, em pouco tempo eu seria obrigado a falar o correto que não concordava e encená-lo no lugar da vida. E não esperava ser como os tantos que eu via, nos altos postes, falando com autoridade sobre coisas tão banais.

A grande inconveniente de tudo isto é a luz que ofusca os olhos vendados que não conseguem enxergar as letras garrafais que sempre estampei: façamos tudo pelo bem do outro, a recíproca ascenderá a todos.

E há condenação para isto? 

terça-feira, 26 de julho de 2011

Olhando pro Chão

Liberdade talvez seja isto: somos livres para escolher prisões diferentes. (J.Souza)


Enquanto eu andava pelos caminhos que me guiavam, olhava sempre para o chão. Eu estava a procura de não olhar nos olhos maldosos, caluniosos, difamadores, medrosos, soberbos, arrogantes, investigadores, profundos. Olhando para os próprios pés eu percebia que só me importava o caminho. Mas o caminho eu mal via.

Ergui um pouco a visão e vi todos escondendo aquilo que queriam mais mostrar. Todos com vergonha das vergonhas que só a maldade pode enxergar. Era noite, era dia, ninguém ousava me mostrar aquilo que eu queria ver, aquilo que eu mesmo queria mostrar. Estava tudo vedado, ocultado de quem mesmo ousasse pensar. Voltei a olhar pro chão.

Não contentando com meus pés ou a vergonha encoberta, subi os olhos ao coração. Todos batiam no peito, todos cheios de emoção. Mas sobre eles lágrimas desciam e subiam. Desciam as próprias dores, subiam as dores alheias. Fiquei angustiado e derrubei minha própria lágrima no chão. A dor de todos neste momento subiu, inundando também o meu coração. Voltei a olhar pra baixo, comecei a inundar o chão.

A vida não fazia mais sentido. Os caminhos não eram meus, eu apenas os aceitara, não os escolhera ou os descobrira. Eu andava por caminhos que não eram os meus, por isso olhava para o chão, pois pra onde quer que olhasse enxergava solidão, a falta de uma chegada, o medo dos erros, as dores que voltam e que vão. Decidi então olhar pra frente, erguer a cabeça e encarar a todos. Sabe o que vi?



Todos olhando para o chão.

sábado, 23 de julho de 2011

Pátria Amada, Brasil!


"Gigante pela própria natureza..."

Têm gente que me vê como um sonhador, alguém que não tem os pés no chão. Alguns dizem que eu irei aprender com o tempo que o mundo não tem mais conserto. Outros dizem que eu devo estar cego ante as injustiças sociais. Os poucos que me olham com a mesma esperança estão certos de que tal esperança é uma utopia. Eu continuo otimista e não vacilo ao pensamento negativo. Até porque, se Rhonda Byrne (O Segredo) estiver correta, o pessimismo pode afundar toda uma nação, caso este tome maior proporção.


Mesmo com tanta injustiça ao meu redor a terra têm sido gentil a mim e aos tantos mais sofredores, filhos deste solo. Temos um mundo todo a descobrir em nossas imensas terras e muita terra a oferecer ao mundo todo. Como eu disse em outros posts, este não é o problema; não são as nossas condições naturais que levariam nossos irmãos ao autoexílio, mas sim a precariedade da nossa política e economia? Mas como assim "precariedade"?

Temos 122 anos de república advinda de uma colônia escravista, dominada por um regime de exploração econômica de proporções desastrosas. Aprendemos que o tradicionalismo sobrepunha-se sobre qualquer pensamento "inovador". Nossas religiosidades dominantes sempre impuseram uma moral ultrarracional. Estas religiosidades cultuavam a ignorância dos fiéis (o que torna muito mais fácil a dominação de qualquer povo - assista ao filme "O Livro de Eli"). Entramos numa pseudo independência que nos consumia até bem pouco tempo atrás com dívidas e mais dívidas. Infelizmente uma mentalidade arcaica como a dos dias de outrora é quase um câncer difícil de ser estripado. De fato são poucas décadas para uma profunda metanoia.

Em tão pouco tempo assim é natural que ainda tenhamos políticos de linhagem política tradicional dominando o cenário público e não representando a sociedade, mas sim seus estamentos. É natural que ainda tenhamos uma dominação política feita por interesses próprios, e não coletivos. É natural que, com uma mídia de que destaca a minoria corrupta em detrimento aos feitos dos honestos, vejamos uma política corrompida a cada dia; vejamos seus escândalos e desordens. Eu proponho uma lei: para cada notícia ruim, duas boas (na mesma área). O que não natural é termos "filhos deste solo" com uma visão política sadia e racional preferindo e sonhando no dia em que terão condições de abandonar a nação (com os frutos desta própria terra). Diferentemente da palestina, tonamo-nos assim, como diria Renato Russo, "um Estado que não é nação" (organizado, porém sem cultura e paixões próprias).

As injustiças sociais do nosso país, tais como suas instabilidades com moral e ética, deveriam somente despertar a estes tantos indignados (aos quais me incluo) a quererem mudar o rumo de tanta desordem. Mas estes (dos quais me excluo) não entendem que o "silêncio oficial" é muito maior que a "indignação anônima". Quero dizer com isto que uma pessoa que têm o tato para sentir o que há de errado, porém abandona o país ou se exclui da vida política, perde seu tempo expondo qualquer indignação. Esta pessoa está se desgastando, sofrendo e adquirindo doenças emocionais. Esta pessoa, à semelhança daquelas que vivem magoadas, são inoperantes e as únicas atingidas pela própria indignação. Aliás, vai aqui uma triste notícia: a política é feita por consentimento; a passividade ou "exclusão da vida política" é uma forma de consentimento (Hannah Arendt). 

Eu tenho um projeto e um sonho: ser um bom e útil Cientista Político (projeto) e Senador (sonho). Sei que uma lei passa por um longo processo de elaboração e que ninguém está na vida política sozinho, sendo um simples alfabetizado - todos são amparados e assessorados; como Cientista Político eu poderia ajudar em projetos de organização da minha Cidade, Estado e, quiçá, Nação. Como Senador eu poderia zelar pelos direitos do povo e ter autonomia na elaboração e aprovação de leis sensatas, de interesses coletivos, beneficiando principalmente os menos favorecidos, dando assim condições à una ascensão social da população. 

Agora até você que estava me apoiando deve já estar pensando na possibilidade de eu ser, realmente, um utópico e inoperante sonhador. Mas ainda estou crente de que este é o meu legado: o bem social. Contudo gosto de pensar e dizer que sou uma metamorfose ambulante, sempre renovando o pensamento, sofrendo sempre metanoias. Traço e sonho com estes planos. Quem sabe sejam eles possíveis e viáveis a este meu "Legado Destino Manifesto"? 

Encerrando por aqui concluo com uma certeza:

"o problema do Brasil não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons." (parafraseando Dr. Martin Luther King Jr.)




Dentre outras mil, és tu, Brasil, minha pátria amada!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A Relíquia da Morte

O que você pediria à Morte se pudesse ganhar dela um presente?



O título e a frase inicial deste texto nos faz lembrar de quê? Harry Potter e as Relíquias da Morte. Normalmente vemos uma fada ou gênio oferecendo presentes a quem os encontra, mas não a Srta. Morte. Rowling, autora de uma das literaturas mais apreciadas em toda a história da humanidade, Harry Potter, teve esta idéia genial. No conto as Relíquias da Morte são três objetos dados pela Morte a três irmãos que conseguiram, através da magia, fazer a travessia de um rio onde ninguém jamais sobrevivera. Os três objetos eram a Varinha das Varinhas (pedida pelo irmão mais velho, que era o mais combativo dos três e queria uma varinha que o permitisse sempre vencer os duelos), a Pedra da Ressurreição (irmão mais arrogante que queria restituir a vida às pessoas que a morte levasse) e a Capa da Invisibilidade (pedida pelo irmão mais novo que queria sair do lugar sem ser seguido pela morte). O que eles pediram, na verdade, foram formas de não ter que encarar a morte novamente. Segundo a lenda o possuidor das três relíquias seria mais forte que a morte. Zeca Camargo diz que "Harry Potter & Cia galvanizou toda uma geração, criou um elo fortíssimo entre jovens (e muitos adultos) de todo o mundo, e reinstalou o imaginário fantástico no cenário cultural pop universal como nunca havia acontecido, talvez, desde “E.T.” – o filme de Steven Spielberg, de 1982". De fato esta saga (a qual comecei a ler inspirado por um menino de dez anos, Jônatas, há uns 6 anos) cativou tanta gente que será impossível, por longas décadas, desaparecer das principais leituras mundiais.

Mas vamos à nossa questão inicial: 

* Se eu você estivesse hoje a oportunidade de ganhar um presente da Morte, qual pediria?

O tema ronda a grande questão da vida, a morte. Talvez seja ela o segredo desta vida, diria Raul Seixas, mas a questão é que está ai uma resposta que angustia o homem e o faz recorrer às milhões de respostas para este momento, cuja verdade sobre não temos (é o que acredito no momento). Até bem pouco tempo atrás eu teria "mil e uma" repostas para esta grande questão. Eu teria dogmas, fantasias, estórias historiadas ou ainda cogitações a apresentar a qualquer um. Mas ao passo que a vida presente foi ficando em segundo plano, em detrimento à vida futura, comecei a me cansar de tanto nadar e não chegar a um porto seguro. Tudo que eu tinha eram indicações, bilhetes, placas, mensagens e mais mensagens. Então decidi entrar em um bote e seguir a viagem admirando a paisagem do grande "oceano da vida" sem esperar por avistar ou tocar um lugar seguro. Escolhi a vida, escolhi a "dádiva do presente". Atualmente estou bem mais contente com o presente, ainda que o fim esteja próximo. Que se dane o fim!

Estar de frente com Gabi a Morte é algo que muitos de nós já experimentamos. Eu, por imprudência, cheguei o mais próximo dela bebendo. Outros sofreram acidentes graves ou passaram por graves doenças, e quase todos já a viram no corpo de alguém. Neste último caso pediríamos algo que anulasse aquele momento, prolongando eternamente o último minuto de vida  daquela pessoa. Quando ligamos a TV e vemos as muitas mortes de pessoas inocentes ficamos frente a frente com a Morte. Em minha casa é de costume ligar o rádio logo pela manhã para ouvir as "Notas de Falecimentos". A morte nos tormenta e fascina. Creio que algumas das gotas que escorrem de nossos olhos são do medo que habita em nós quanto a este momento inimaginável. 

Muitas crenças religiosas ainda são importantes em consequência desta grande questão. Augusto Comte dizia que a Ciência trouxe ao homem muitas respostas, fazendo com que deus (religião) já não fosse mais necessário para responder à questões dadas pelas Leis Naturais, as quais regem a Ordem Natural. Mas além de conservar a moral, a religião ainda tem em suas mãos uma reposta muito distante do conhecimento empírico: a vida após a morte. Não pretendendo a fazer um sermão expositivo, apesar de amar a arte da oratória, finalizo apenas expondo um pensamento:

Estamos diante da vida todos os dias, se nos preocuparmos mais com seu fim perderemos todas as maravilhas em seu decorrer; se vivermos de forma pura e legítima todas estas maravilhas, duvido que alguém nos condene ou salve por isto. Não podemos mudar o começo ou o final, podemos escolher a vida e não a morte. Podes pedir à morte que "apenas venha quando ela quiser" e mandar dizer a ela que "não estamos nem ai pra ela". Iremos de bom grado quando ela quiser, sem remorso, arrependimento ou choro.

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Felicidade, paz, saúde e prosperidade pra você!

Josimar de Souza Silva

domingo, 26 de junho de 2011

(dis)Parada Gay

Vai ver que é assim mesmo e vai ser assim pra sempre... (Renato Russo)

As grandes "paradas" fazem todo sucesso pelo mundo. Pessoas com interesses comuns saem pelas avenidas a fim de proclamá-los e, em alguns casos, disseminá-los. Hoje, 26/06/2011, acontece em São Paulo a maior parada gay do mundo e, como a única coisas que muitos ainda enxergam nos gays são sexo, sexo e mais sexo, encontramos infindas discussões sobre as lutas GLBTTT's. Hoje temos grupos religiosos em tristeza espiritual pelo "pecado da nação" e temos também grupos conservadores a ponto de pedirem expurgamento deste "país depravado" - estou apenas usando os termos utilizados por estes grupos, e não exprimindo pensamentos.

O fato é que tanto em meio aos fanáticos religiosos, quanto dos moralistas ou ativistas sexuais, há aqueles que procuram provocar aos que pensam diferente. Por exemplo, o grande problema de religiosos e moralistas não religiosos com a homossexualidade é que uma parte escandalosa (louca, môna) dos homossexuais sente a necessidade de mostrar que a única coisas que move a vida de um homossexual é o sexo, como se não tivessem nenhuma outra relação com o mundo que não a sexual.

Já outra grande parte não precisa disto. Fala normalmente, sem forçar a voz (uma coisa que não entendo), estão sempre por dentro dos assuntos sociais e não se sentem uma outra espécie de ser humano superior ou inferior. Estes não têm a menor necessidade de receberem a alcunha de viadinhos. São somente Pedro, Marcela, Michelle, José etc. A estes não há a necessidade de olhar e dizer "esta coca é fanta", pois não faz a menor diferença, antes de ser gay ele é o Pedro, simplesmente.

A estimativa de público desta 15ª edição da Parada Gay de São Paulo é de cerca de 3 milhões de pessoas. O que marca o encontro deste ano é o legado político: luta por direitos civis contidos no Projeto de Lei Complementar (PLC) 122, que visa a criminalizar a homofobia. Mas outra grande questão é o tema: "Amai-vos uns aos outros: basta de homofobia". Creio ser impossível extinguirmos qualquer preconceito de uma geração. Somente com a morte de uma ou duas gerações conseguimos estabelecer novos preceitos. Então, ao GLBTTT's, meus pêsames, somente os filhos ou netos de vocês não sofrerão com repressões, caso tenham outra condição sexual que não a heterossexual. Mas para que isto acontece, realmente é necessário que as "minorias" saiam em disparada e lutem por seus direitos; a política deve servir aos interesses de toda a população e foi sempre assim, com manifestações, que os direitos civis, sociais e políticos foram conquistados.

O quadro que eu gostaria de ver pela rua é o da utópica música de John Lennon, Imagine.




"Imagine todas as pessoas vivendo para o hoje, imagine não existir países, nada pelo que lutar ou morrer, e nenhuma religião também. Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz. Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único..."






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Felicidade, paz, saúde e prosperidade pra você!

Josimar de Souza Silva

sábado, 25 de junho de 2011

Carta a Jesus

Paz do Senhor pro senhor, Jesus!

Estou lhe escrevendo esta carta pra lhe compartilhar algumas coisas bem incômodas (aliás, acho que a maioria das pessoas faz isto quando falam contigo). Até onde eu li, quando você andou fisicamente sobre este planeta falou muito com as pessoas de sua sociedade corrompida e cega. Falou contra a corrupção política, alienação e manipulação de uma árcade religiosidade (que não acompanha a evolução do mundo), caos social, racismo e outros tantos preconceitos. Ou eu entendi mal todas aquelas palavras sobre amor, resgate, curas, koinonia, partilha, restauração, purificação, organização etc?

Li também que em todo tempo você pregava sobre amar os perseguidores, tratando-os com amor e até mesmo "retribuindo com rosas ao canhão". Li que seus primeiros seguidores formaram uma comunidade onde tudo era a todos comum; nesta comunidade até mesmo as arrecadações financeiras eram direcionadas aos mais pobres, segundo suas necessidades. Os que a viam ficavam tão admirados que o número de habitantes desta comunidade crescia todos os dias. Ah, parece-me que o dinheiro arrecadado ali não servia para dar luxos aos apóstolos e seus familiares, os quais parecem ter morrido sem onde reclinar a cabeça, como dizem ter sido seu caso.

Estes textos eu li na Bíblia, o livro que você não teve a oportunidade de folhear, mas que se tornou a mãe de muitas discussões e de uma divisão social e ideológica tamanha que chega a ser anátema. Neste livro sacro, eu confesso, têm muita coisa pura, infindos ideais políticos que poderiam transformar a sociedade de uma forma extraordinária. Mas, apesar de ser chamado de sagrado, está passível à interpretações de homens mais sagrados ainda. Enfim... 

... no texto que circunda minha mente neste momento li que um de seus amigos, João, tentou impedir um  homem (que não era um de teus discípulos) a continuar a expulsar egrégoras demônios em teu nome. Segundo este texto a sua resposta foi: não o impeçam, pois ninguém que faça um milagre em meu nome pode falar mal de mim, pois quem não é contra nós está a nosso favor; quem não é contra nós, receberá sua recompensa até mesmo se der um mísero copo de água a um de vocês.

Jesus, é o seguinte. Acredito que tem muita gente ai tentando cumprir os desafios propostos por ti, segundo está escrito na Bíblia. Bem, na verdade não são muitos. Mas tem um bocado de "filhos da puta" que estão usando seu nome para propagarem seus anseios egoístas, racistas e arrogantes. Muitos destes se sentem tão superiores aos demais seres humanos que desprezam todos aqueles que estão "do lado de lá", ainda que estejam fazendo aquelas coisas ideais: amando, lutando contra corrupção, miséria e injustiça. Estes, os filhos da puta, estão trancafiados em guetos religiosos, não fazem um pingo de obra pela sociedade ao seu redor; engordam seus seguidores com palavras vazias todos os dias, são avarentos, alienadores, caluniosos, maldizentes e fazem apologia à ignorância e miséria, como se fossem sinais de humildade. Estes "homenzinhos tortos" lutam contra as minorias, desprezam o ser humano em detrimento aos seus "pecados"; lutam contra as minorias marginalizadas, gloriam-se no pedaço de pão sem progresso e educação que dão aqui ou acolá (normalmente no Natal).

Para não estagnar nestes, pretendo tomar duas simples atitudes, as quais submeto ao seu julgamento:

1. Fazer distinção entre aqueles que lutam pelas mesmas causas que você lutou, dos loucos ambiciosos que só atrasam a sociedade (e o faz em seu nome).

2. Lutar ao lado destes que, em seu nome ou não, perdem noites inteiras com a assombrosas imagens de pessoas morrendo pelas calçadas. E que, ainda que em busca de uma satisfação própria, gastam suas energias tentando restaurar uma humanidade nos seres humanos, humanidade a qual sentimos, no âmago da nossa alma, estar perdida há muito tempo. 

Assinado: Nós.
"Estamos do lado do bem" (Renato Russo)


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Josimar de Souza Silva

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Não creio neste Deus

"Pois quem não é contra nós, é por nós" (Jesus)

Estou me esforçando para não ficar escrevendo sobre religião, teologia e religiosos, a fim de não ser rotulado como "perseguidor do santo povo de deus" (e nem é minha pretensão), mas é quase inevitável, pois muitos dos "arautos do rei" são chatos em demasia e vivem a me provocar. Para aqueles que não sabem, eu aceitei a doutrina reformada protestante presbiteriana como minha "filosofia" de vida em 2001. Eu tinha 14 anos de muitas deficiências no corpo (um gordinho socialmente desajustado), alma e mente. Aceitei mais o ambiente religioso do que a "religião pura e sem mácula". Fui muito bem acolhido e formatado pelos dogmas, excluí-me do convívio social com os pecadores condenados ao inferno, destaquei-me dentro do grupo, liderei grupos de adolescentes, jovens e estudos, fui para no Seminário a fim de me tornar pastor. Estudei os quatro anos todas "as filosofias, exegeses, hermenêuticas, comunicações, psicologias, antropologias, oratórias, gregos e hebraicos da vida". Formei-me em 2009 com a cabeça cheia de dúvidas e incertezas, mas como dúvidas são opostas à fé e os questionamentos são inerentes ao desprezo, decidi-me por sair do ministério que a pouco começara, em 2010. A saída foi obrigatoriamente perturbadora. E como aquilo que nos une é aquilo que nos separa, perdi todas as relações cujo único laço era a religião.

Um mês depois eu estava novamente empregado, trabalhando no CRAS (Centro de Referênia da Assistência Social), fazendo aquilo que eu realmente achava construtivo; buscando promover à crianças e adolescentes um pouco de saúde e dignidade sem repressão física, moral, espiritual e intelectual. 

Antes que terminasse o meu primeiro mês de serviço, fui chamado para a Universidade Federal de Alfenas (MG) para cursar Bacharelado em Ciências Sociais. Fiquei muito feliz. Fui estudar mesmo sem ter como ser sustentado por meu pai e minha mãe, lavrador e doméstica encostada, respectivamente. Paguei algumas contas e deixei outras (as quais não foram quitadas devidos a pagamentos não recebidos na quebra do meu sacro contrato), paguei o primeiro mês do pensionato e estou aqui, com algumas ajudas e esforços limitados de meus pais, esperando conseguir uma bolsa de estudos que me sustente com o básico necessário.

Mas por que isto tudo? 

Há dois dias um amigo me repassou a seguinte análise de um cristão: eu já vi gente fazer o que o Josimar fez,  abandonaram o ministério e só fracassaram na vida, deram-se mal, assim será com ele. 

O pior é que ouvi desta mesma pessoa: se seu coração diz assim, é a melhor coisa a se fazer, deus estará com você, que deus ilumine seu caminho e te cubra bênçãos.

Há tantos palavrões em minha cabeça neste momento, os quais estão quase vazando pelas pontas dos dedos, que eu mal posso continuar o texto. Este tipo de religioso sempre cria confusões. Está sempre insatisfeito com seus "opositores". É sempre o advogado de deus na terra. É este tipo de religioso que ama as pessoas pelos seus títulos. É este tipo de pessoa que crê em um deus à sua imagem e semelhança e inverte o jogo interpretando a textos religiosos segundo sua própria cobiça. Que este deus que manipula as pessoas, condena todos aqueles que não lambem seus pés e despreza totalmente aqueles que lutam pela dignidade dos desvalidos, exploda-se com seus servos. Quanto a este deus eu já posso dizer: neste deus eu não creio.

Na última palestra que tive, uma antropóloga falava sobre a mania que adquirimos em analisar as pessoas, e eu que já a tinha voltei a pensar: MUITOS religiosos são estressados por estarem sempre se reprimindo e sendo reprimidos, procurando cumprir as regras preestabelecidas pelos intérpretes sagrados. Estes MUITOS religiosos adoecem em suas relações afetivas, familiares e profissionais, culpando consequentemente o eterno inimigo de suas almas, o capeta, pelos problemas com as pessoas que as contrariam. Elas não sabem ser contrariadas, não gostam da oposição, consideram-se a verdade encarnada. Como diria um amigo, estão sempre criando suas egrégoras (do grego egrégoroi, força gerada pelo somatório de energias físicas, emocionais e mentais de duas ou mais pessoas), ou seja, colocam no capeta e demônios a responsabilidade dos problemas que elas criaram e não são capazes de resolver.


Enquanto temos ONGs com pouquíssimos recursos financeiros tentando erradicar desgraças sociais, temos bancos religiosos que vivem em função de adoecer pessoas e sugá-las em nome de deus. O que mais temos no Brasil são igrejas abertas de portas fechadas. Igrejas que pregam amor ai próximo, amparo à órfãos e viúvas, mas não conseguem se quer assistir sua cidade com uma mísera cesta básica (talvez porque comprando uma, desfalcar-se-a a côngrua pastoral). Estas mesmas igrejas costumam ter prédios suntuosos que são usados somente por seus membros aos finais de semana, não prestam qualquer assistência social se quer à rua na qual se localizam. Seus filiados são pomposos, mesmo os mais pobres (os quais muitas vezes se submetem à humilhação e descaso dos membros ricos), e se destacam em meio à miséria da sociedade. Esnobes, arrogantes, presunçosos, mercenários. São a favor da lei e contra os "vícios da carne", mas em seus comércios não faltam pirataria, cigarro e bebida. Lembrando que estou falando "daqueles MUITOS" supracitados.       

Enfim. Se eu "fracassar" na vida será tentando mudar não somente a minha realidade, mas a das tantas pessoas esquecidas pelas tantas outras "equivocadas que fazem mal uso da palavra, que falam, falam o tempo todo, mas não têm nada a dizer" (Charlie Brown).

Eu não sou nenhum opositor de pensamentos a cerca do metafísico. Mas devo dizer que me enfureço facilmente contra aqueles que vivem a condenar os outros ou ainda discriminam "o pecador" em função do seu "pecado". Não tenho nada contra aqueles que aceitam as infalíveis verdades religiosas, mesmo não concordando com elas. Mas as vezes a cegueira é tanta que não percebem estarem matando pessoas ao invés de promover saúde. Uma pessoa abandona o cigarro e o álcool, mas aprende a desprezar o ser humano que pensa diferente, como se ele fosse um animal selvagem.

Agora, como provocador e maldito perseguidor, indico-vos a leitura deste breve texto:

Quais os dois ditados mais populares com manga?