quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Pra onde tenha sol, é pra lá que eu vou...

E a mulher de Ló olhou para trás e converteu-se numa estátua de sal.
(A História do Gênesis, Moisés.)

Por algumas vezes eu cantei uma velha cantiga sobre a mulher de Ló com as crianças: ouça agora essa história de uma mulher que se deu mal, só porque olhou pra trás virou uma estátua de sal (Sandrinha). Para você que não conhece, ela é tipo aquelas cantigas que gritam “estátua”, e todos param em uma determinada posição. Nesta, a da mulher de Ló, fazemos caretas e rimos com elas, porém muitas vezes, menos que as crianças, pouco entendemos o verdadeiro sentido da história da mulher de Ló. Resumidamente a história bíblica fala sobre uma família que, sob ordem de Deus, fugia de uma cidade que estava prestes a morrer sob sua fúria que se manifestaria através de um fenômeno semelhante a um vulcão em erupção. Deus havia dito somente uma coisa a eles: não olhem para trás. A mulher de Ló desobedeceu e virou uma estátua de sal (O Livro de Gênesis, capítulo 19). Creio que alguma bola de fogo deve ter a atingido, carbonizando-a, que triste!

A história bíblica da mulher de Ló se parece muito com a dos antigos escravos hebreus no Egito (outra história narrada pelos primeiros livros do cânon bíblico) que, após serem resgatados dos sofrimentos do Egito, reclamaram e olharam para trás na tentativa de resgatarem os momentos de escravidão sob as mãos de Faraó (O Livro dos Números, capítulo 11).

Segundo o relato do livro de Gênesis, as antigas cidades de Sodoma e Gomorra passavam por dias em que seus habitantes estavam submersos em diversas perversões. A maioria dos religiosos diz que tais perversões eram “escandalosas atrocidades sexuais homoafetivas”. Mas não, eles não morreram por se entregarem às suas condições sexuais, sejam elas quais fossem. Desconfio que aqueles cidadãos haviam optado pela morte do corpo, da alma e da mente. Tal morte havia sido construída através de injustiças, imoralidades, abusos, mentiras e outros males contra a vida (o conceito de vida aqui está além da respiração). Os moradores das cidades de Sodoma e Gomorra estavam longe do amor a Deus, ao próximo e a eles mesmos. Então, segundo a história bíblica, Deus resolveu acabar com a bagunça e preservar a vida de alguns habitantes apenas; dentre eles estava a mulher de Ló (coitada).

Segundo as narrativas bíblicas, Deus lhes pediu somente uma coisa: a Ló e sua família que não olhassem para trás e prosseguissem morro acima dos montes de Zoar; aos escravos israelitas que atravessem um mar imprevisível e caminhassem por um deserto sufocante. Em ambas as histórias havia um sacrifico distinto a ser realizado. Na primeira era subir às pressas os montes sinuosos de Zoar, na segunda era simplesmente atravessar a pé um mar (um mar!?) e um deserto (um deserto!?) – coisas não tão simples em ambos os casos!

Creio que estas experiências não foram exclusivas aos contos bíblicos. De certa forma estas situações ainda costumam acontecer, não com a mesma literalidade, mas de outras formas. Ainda hoje também passamos por situações e constrangimentos inimagináveis e depois começamos a sair delas, mas não sem passarmos pelas nossas “colinas, desertos e mares”, ou seja, nossas mágoas e dores. É assim, até que saiamos completamente das adversidades passamos por desertos, atravessamos mares e subimos às pressas por colinas tortuosas. Este caminho é solitário para a maioria de nós, algumas vezes temos que passá-los com nossos familiares e amigos (o que deve ser mais difícil).

O ano de 2010 não foi fácil para muitas pessoas. Alguns deram adeus a familiares e amigos que morreram, outros passaram por momentos conturbados em seus casamentos, noivados ou namoros (muitos destes acabaram); outros ainda passaram por decisões difíceis de serem tomadas (muito perderam noites de sono); alguns tiveram doenças graves que deram gastos e trouxeram conflitos emocionais e até mesmo relacionais. Estes são os tais conflitos inimagináveis, estes são os momentos de dores e medos. Depois vêm as colinas, desertos e mares através das recuperações de doenças, depressão pós-separação ou ainda através das dificuldades de adaptação nas novas etapas. Ficamos com aquela sensação de que o problema não foi resolvido, a sensação de decepção por não terem alcançado a vitória imediata. Mas após as dores e feridas sempre há o processo de cicatrização.

Dor e medo são coisas constantes em nossas vidas. O medo é essencial para a preservação de qualquer espécie, todos os seres vivos sentem medo, até a ameba ou a ostra; se não houvesse o medo haveria muitas mortes prematuras, seriamos constantes suicidas. A dor é uma consequência de erros voluntários ou não, elas vêm de crises que nem sempre fomos os causadores, contudo elas têm um papel importantíssimo: elas deixam lições quando cicatrizam. Lições e não dores! Elas deixam marcas que nos lembram de como não fazer algo ou o que pode acontecer se repetirmos um erro, mas não deixam dores. Cicatrizes que doem são apenas feridas maquiadas.

O convite deste texto é não olhar para trás, esquecendo-nos das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de nós estão (A Carta de Paulo aos Filipenses, capítulo 3, versos 13 e 14). O convite deste texto é não vivermos cansados e sobrecarregados com as dores de 2010, mas prosseguirmos rumos às alegrias, dores, felicidade e até mesmos medos de 2011. O convite deste texto é para não deixarmos que o relacionamento que acabou ou as decisões bem ou mal tomadas continuem a nos escravizar. Que o passado permaneça no passado. O que ainda tem de ser resolvido, que seja resolvido, mas com as lentes do presente e do futuro, nunca com as do passado. Não. Somente com as lentes do presente.

Carpe Diem!

“Ei, dor! Eu não te escuto mais, você não me leva a nada. Ei, medo! Eu não te escuto mais, você não me leva a nada. E se quiser saber pra onde eu vou: pra onde tenha Sol, é pra lá que eu vou!” (Jota Quest)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O Impacto Social da Religiosidade (parte 1)

O Encontro com a Religiosidade

José era um homem comum. Casado com Patrícia e pai de dois adolescentes, Hugo e Dione. Tomava sua cervejinha, para relaxar fumava dois ou três cigarros de vez em quando – longe dos meninos para não dar mal exemplo. Passava uns apertos com umas continhas aqui, outras ali. Participava do futebol com os amigos, chegava um pouquinho atrasado, mas estava sempre lá. Estava no mesmo cargo havia 15 anos, na mesma empresa. Em algumas datas importantes como o dia das mães, dos pais e natal, José e sua família passavam o dia juntos. Como o colégio dos meninos nunca ligava, para ele o rendimento escolar dos filhos estava sempre muito bem, obrigado. Finalmente não podemos nos esquecer de que José tinha um bom carro, não era do ano, mas estava bem conservado, alugava um apartamento em um bairro não violento de sua cidade, tinha parabólica em casa e um computador desktop para a família. 

Um dia José chegou ao trabalho e conheceu o novo gerente, um jovem (uns dez anos mais novo que ele) que fora transferido da capital para sua cidade. Não era a primeira vez que isto acontecia na empresa nos últimos quinze anos, então José nem se incomodou.

O jovem gerente certo dia fez um convite a José.
- José, você não gostaria de vir com sua família em uma reunião que haverá em minha casa nesta próxima sexta-feira? Agradeceremos a Deus pelo aniversário de minha filha, Vitória, que está fazendo quatro aninhos e depois comemoraremos com um bolo.
- Claro, Sr. Ricardo.
- Não precisa me chamar de senhor, José. Antes de ser seu gerente eu quero ser seu amigo e, aliás, aqui é sua casa há quinze anos. Mas e ai, você e sua família virão?
- Claro que sim. Na sexta-feira a que horas?
- Às 20h.
- Ok. Iremos sim. Obrigado pelo convite.

Sabe o que aconteceu? Os filhos de José e sua esposa ficaram espantados com o convite, o pai nunca saia com os meninos, ainda mais para uma “festinha na casa do gerente”. Mas na sexta-feira eles lavaram o carro, vestiram-se com as melhores roupas, compraram um presente para Vitória – um ursinho antialérgico – e foram até o endereço combinado. Chegando lá ficaram um pouco constrangidos, pois eram os únicos “bem arrumados” do local, mas depois relaxaram.

Logo vieram uns meninos e se aproximaram dos filhos de José, em questão de minutos estavam todos em frente a TV, jogando Guitar Hero. Imediatamente a isto vieram algumas senhoras perguntando o nome de Patrícia e claro, Ricardo havia puxado José até uma roda de homens que falavam sobre futebol e carros, as paixões de José.

- Meus amigos, um minuto de sua atenção. Disse Ricardo, o gerente. Hoje é um dia muito especial para nós, pois celebramos o milagre da vida. A maioria de vocês sabe que há quatro anos eu e minha esposa lutávamos para termos um filho. Ela era estéril. Não procuramos nenhum recurso medicinal, apenas oramos a Deus e ele nos ouviu. Em resposta às nossas orações ele nos deu está linda menina que há quatro anos tem nos dado muitas alegrias. Peço ao pastor Roberto que faça uma oração em gratidão a Deus por mais um ano de vida ao lado desta nossa jóia e ore também por meus novos e preciosos amigos, os quais me deram a honra de sua presença: José, sua esposa Patrícia e seus filhos Hugo e Dione.

O pastor abriu sua bíblia e leu um texto que falava sobre a união da família, os deveres dos pais e filhos e então orou. Após a oração o pastor disse a José e sua família que eles estavam convidados para um encontro que aconteceria na Igreja da Rua 7, no domingo, às 19h. Após isto todos começaram um alegre “parabéns pra você”. Vitória assoprou as velinhas e todos continuaram suas conversas alegres.

Algo novo aconteceu naquela noite. Os filhos de José receberam abraços como se fossem os aniversariantes. Sua esposa conheceu mulheres que a trataram como amigas de longas datas. José sentiu-se livre juntamente com pessoas que ele nunca havia visto antes.
- Nossa, mamãe, como aquela gente é legal. Disse Hugo, o mais velho.
- Sim, viu só filho, são os amigos do papai.
- Você joga bola com eles pai? Perguntou o mais novo.
- Não filho, eles são amigos do Sr. Ricardo, eu os conheci hoje. E é verdade Hugo, eles são muito legais. Acho que são todos da Igreja daquele pastor; ah, pastor Roberto.
No domingo de manhã o telefone toca.
- Alô! José?
- Isto mesmo!
- Aqui é o Ricardo.
- Olá Sr. Ricar. Oh, descuple, Ricardo!
- Bom dia, José. Estou ligando para saber se vocês vão querer ir à Igreja com a gente hoje. Porque se você quiser minha esposa leva a Vitória e eu passo ai para buscar você a Patrícia e os meninos.

A esposa de José escutava em silêncio junto ao telefone e balançou a cabeça aceitando ao convite.
- Claro que iremos – disse José – mas venha com sua esposa no carro e seguimos vocês.
- Ok. Passo ai às 18h30min em ponto. Ok?
- Tudo certo então. Fica combinado assim.
- Tudo bem, que Deus abençoe o domingo de vocês. Até mais a noite.
- Amém. Até. Finalizou José.
- Amém? Disse Patrícia.
- Amém irmã! Brincou José.

Naquele dia os meninos ficaram eufóricos e ansiosos. Patrícia passou a tarde toda passando as roupas e cuidando de suas unhas e cabelos. José cancelou o futebol para limpar o carro novamente. Foi ao banco e sacou R$ 50,00 para comer um lanche com a família após o encontro na Igreja da Rua 7.

Naquele dia o número de pessoas agradáveis havia quadruplicado. Muitas pessoas gentis, mulheres agradáveis, homens sóbrios e alegres, jovens em uma grande roda cantando ao som de um violão.

O pastor havia pregado sobre “O sacrifício de Deus em favor dos homens”. Patrícia demorou a perceber que José estava timidamente chorando e então segurou forte em suas mãos e também chorou. José que havia sido abandonado pelo pai e visto sua mãe morrer com câncer aos dezesseis anos ficara emocionado com a mensagem que apresentava um Pai que amava a todos incondicionalmente e tinha um bom lugar reservado nos céus para todos aqueles que acreditassem em sua palavra. Patrícia também se emocionou com aquele Deus era um pai tão amoroso quanto havia sido o seu para ela e os outros oito filhos.

Os filhos de José ficaram meio dispersos durante a pregação do pastor, porém maravilhados com a banda que apresentou durante aquele encontro. Eles só não entendiam, e às vezes achavam engraçado, o choro da mulher que cantava e falava entre as músicas, mas aquele cara da guitarra e o outro da bateria tocavam demais.

No próximo domingo Dione foi o primeiro a perguntar: hoje iremos novamente pai? Claro que sim, filho – respondeu José. No próximo todos já sabiam qual seria a programação, e no próximo, no outro próximo e todos os próximos domingos.

Dois anos depois estava tudo diferente. A mudança gradual para a família foi drasticamente notada por Carlos, um amigo que a família não via havia dez anos.
- Alô, gostaria de falar com o José.
- Carlos?
- José? Zé?
- Fala meu amigo! Por onde você anda? Quanta saudade. Logo reconheci sua voz.
- Estou aqui em frente ao seu prédio, Zé. Mas o porteiro disse que você se mudou, eu me apresentei e ele me deu seu número novo, Zé. Onde você está morando meu amigo?
- Venha à Rua 9, moro na casa 125, em frente ao Supermercado Havaii. Estarei te esperando na calçada.

Carlos era representante comercial e passou dois dias na casa de José. No dia de sua despedida disse ao Zé sobre o quanto ele havia mudado, o quanto estava diferente, o quanto abraçava mais sua mulher e beijava seus filhos. Como a casa nova era bonita e que seu carro era incrível.
- Você mudou de emprego, Zé?
- Não, Carlos. Fiz uns cursos extras e fui abençoado com algumas promoções, hoje sou o subgerente lá da empresa. E ontem recebi uma notícia ruim e boa ao mesmo tempo. Meu gerente, Ricardo, um anjo que Deus colocou na vida da minha família, vai ser transferido e eu serei promovido a gerente da empresa. Deus tem sido muito fiel à minha família, nada tem nos faltado. Aliás, se você ficasse mais tempo com a gente eu o levaria para conhecer minha Igreja, você iria gostar.

Todas aquelas palavras saindo da boca de José eram muito estranhas: “abençoado”, “anjo”, “Deus”, “fiel”, “minha Igreja”. Um fim de semana com seu amigo sem tomar uma cervejinha, fumar um cigarro e ele nem reclamou que estava apertado com as contas atrasadas. Ele estava realmente bem de vida, tinha TV a cabo com aquele “monte” de canais e os meninos andando com seus notebooks pela casa. Ah, e o Zé dizendo que amanhã iria passar no colégio para pegar os boletins dos meninos? O mais estranho foi ter que sair meia hora antes para chegar ao futebol na hora certa. Não, o mais estranho era ver aquela Bíblia ao lado da TV. E os meninos cantando e tocando violão; como era mesmo a música? “entra na minha casa, entra na minha vida...”. E os abraços nos filhos? E os filhos que antes diziam somente mamãe agora também dizem “papai”!? E os abraços constantes na Patrícia? Aliás, antes era possível ver os seios da Patrícia.

Carlos não entendeu muito bem o que aconteceu na vida de José e sua família, mas concluiu que era bom. Talvez o amigo não conversasse mais sobre coisas tão interessantes e nem participasse mais dos momentos de descontração da turma. Mas seu novo estilo de vida parecia ser um bom modelo a ser invejado e seguido.

O Impacto Social da Religiosidade (parte 2)


O Comportamento Religioso
http://2.bp.blogspot.com/_eXHHvaE85co/TPkmeyTxhUI/AAAAAAAAAYw/IYIyauqbGqA/s200/conhecimento3.jpgAo observar o comportamento dos grupos religiosos eu percebi o quanto a religiosidade tem um papel importante dentro da sociedade. O caso de José é fictício aqui, mas real no dia a dia. Muitas pessoas têm abandonado a apatia à religião e se tornado pessoas religiosas.

O "biotipo" destas pessoas é quase sempre o mesmo. A maioria dos religiosos foi/é formada por pessoas com hábitos repudiados por elas mesmas ou por outras pessoas. A maioria dos religiosos foi/é formada por pessoas outrora dominadas por vícios e traumas. É claro que há aqueles que não foram/são viciados ou aprisionados por seus traumas, mas a maioria comeu “o pão que o diabo amassou com o rabo”, enfim foi vítima do nosso “belo quadro social” (Raul Seixas) e das intempéries da vida.

Nas religiões cristãs, nas quais tenho mais conhecimento, apresenta-se um Deus que é um pai bondoso, que adota o homem perdido e rejeitado (Cartas de Paulo aos Efésios 1.5, aos Gálatas 4.5 e aos Romanos 9.4*). Este pai adotivo que cuida de seus filhos age com amor todos os dias. De sua disciplina emana amor. Por amor a estes filhos adotivos este pai entregou seu único filho à morte (O Evangelho Segundo João 3.16*). Este filho legítimo morre e ressuscita pelos recém adotados, legitimando a adoção dos que antes estavam perdidos. Através deste filho todos os demais são aceitos e podem correr para os braços do pai, os quais estão sempre abertos a espera destes filhos.

Como vimos no caso de José e sua esposa (aquele choro era a conversão deles), a imagem do Deus–pai é muito importante na vida dos seres humanos. Na maioria dos povos a imagem do pai tende a ser mais ausente, pois o macho sai à caça para sustentar sua fêmea e suas crias, enquanto a fêmea fica no ninho cuidado destas crias.

O Deus-pai tem um significado muito importante na vida da pessoa que teve ou tem um bom pai, pois esta pessoa pode identificar em Deus a mesma proteção paterna e ainda o amor e carinho maternos. A vida espiritual destas pessoas geralmente é muito mais “fervorosa”, pois Deus é o bom pai eterno que não se limita a esta vida.

Já para a pessoa que teve (ou tem) um pai ausente que vivia bêbado, violentou-a, espancou-a, maltratou sua mãe, ou seja, que de forma alguma a protegeu, a imagem do Deus-pai pode alcançar um dos extremos: “Deus é o pai que eu nunca tive” ou “eu não confio na figura do pai”. Deste segundo grupo de pessoas Deus tem que ganhar a confiança e mostrar para elas que “os pais não se esquecem dos filhos que ainda mamam, mas ainda que estes venham se esquecer dele, todavia, o Deus-pai nunca se esquecerá” (Isaias 49.15).

No livro “A Cabana” o personagem principal, Mack, encontra-se com Deus e se surpreende com a imagem que encontra. O Excelso Intocável Soberano Deus-pai aparece em forma de uma mulher negra e gorda, que ama a culinária. Deu-se o primeiro impacto conceitual. Depois Mack tem a dificuldade de chamar a Deus de papai, assim como Sorayu (Espírito Santo) e Jesus. Por que isto acontece? Porque a imagem de pai era deturpada para Mack, pois seu pai não havia sido um bom pai. O livro termina de forma surpreendente, a quebrar muitos paradigmas estabelecidos pelas religiões. Somente quando Deus refaz a imagem de pai para Mack e ainda lhe promove um encontro mágico com seu pai da terra que Mack consegue o ver como papai.

Talvez José tenha se alienado em relação a muitas coisas, como dizem os mais críticos aos religiosos: adquirido conceitos e pré-conceitos. Mas o fato é que a relação de José com sua família mudou, sua disciplina mudou, sua dedicação ao trabalho mudou, enfim todo o seu quadro social foi alterado.

Dentro da Igreja José aprendeu que deveria ser um esposo exemplar, um pai presente, um servo de Deus e um contribuinte fiel. Isto mesmo, contribuinte fiel. Uma pessoa que adota as “ambições” dos religiosos tende a evoluir socialmente.

Acompanhem meu breve raciocínio. Um homem que não dava tanta atenção aos seus filhos e esposa agora aprende que deve cuidar bem de sua família. Dentro das igrejas cristãs se ensina que os filhos devem ser criados nos caminhos de Deus, que as esposas devem ser amadas como se ao próprio Deus, que o homem deve governar sua casa com dignidade e respeito, pois isto é digno diante de Deus (Carta de Paulo aos Efésios, 5).

Quanto aos tão criticados dízimos e ofertas o que acontece também é surpreendente. Dentro das igrejas cristãs se ensina que 10% de sua renda devem ser devolvidas a Deus, pois é um de seus mandamentos (O Livro do Profeta Malaquias, 3.10*). Ainda ensinam que não se deve gastar o dinheiro naquilo que não é pão, ou seja, necessário à vida do homem (O Livro do Profeta Isaías, 55.2*) e muito menos para sustentar seus vícios, os quais devem ser abandonados (Carta de Paulo aos Gálatas, 5.19-26*). O que acontece? A pessoa que antes gastava dinheiro com cigarro, bebida, prostituição e jogos, por exemplo, agora não gasta mais este dinheiro que é um extra em sua renda.

Então entra o segundo passo, a pessoa aprende a separar 10% de sua renda para “devolver a Deus” (o que em alguns casos é o dinheiro que não é mais gasto com os vícios citados a cima). Antes ela não tinha controle de nada, agora aprende a separar o dinheiro para isto, aquilo e aquilo outro, pois se ela não fizer isto talvez Deus fique sem sua parte e isto pode atrais “maus presságios”. Uma pessoa que consegue reajustar sua renda para “devolver a Deus” 10% de tudo que recebe ganha uma nova disciplina em sua renda pessoal e familiar. A partir daí é mais fácil controlar o dinheiro para trocar de carro, fazer reformas e adquirir mais conforto. Aliás, para os cristãos a prosperidade está sempre no alvo, pois “uma família abençoada é uma família próspera”.

Ainda que não concordemos com muitas coisas dentro do pensamento religioso devemos admitir que há algo positivo na conversão de uma pessoa a uma vida religiosa. Entremos nos bairros mais pobres e comparemos o nível de vida das famílias mais religiosas – principalmente no caso das evangélicas tradicionais e neopentecostais. As pentecostais, infelizmente, tendem a exaltar a pobreza como sinal de humildade moral.

A religiosidade de fato aliena a pessoa. Há muitos guetos religiosos que  deveriam comprar um terreno, fechar com um muro e viverem isolados com suas leis, comércio e outras atividades. Mas como isto não é possível, pois gastaria muito da suada côngrua pastoral (procure isto no Google), estes religiosos de mente fechada continuarão a viver entre nós, contra tudo e todos que não são de suas respectivas religiões, contudo, que haja a evolução social, a erradicação da pobreza através de uma "santa ambição" conquistada honestamente, reconstrução da união familiar, retomada da fidelidade e amor conjugal e outras virtudes perdidas pelo “homem ambicioso de espírito pobre que só pensa no dinheiro e não liga para a morte, a morte do futuro...” (Gabriel o Pensador)

* Bíblia Almeida Revista e Atualizada

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Orgia das Músicas II

Para o fim de ano

Quando não vivemos plenamente cada segundo de nossas vidas somos levados a declarar a cada final de ano e de etapas que deveríamos ter “amado mais, chorado mais, visto o sol nascer; deveríamos ter arriscado mais e até errado mais; deveríamos ter feito o queríamos fazer, aceitado as pessoas como elas são; deveríamos ter complicado menos, trabalhado menos; deveríamos ter nos importado menos com problemas pequenos, ter morrido de amor, enfim, aceitado a vida como ela é”. Então cantaremos a velha canção como um grito ao que não vivemos: "este ano quero paz no meu coração".

É assim “o tempo passa e com ele caminhamos todos juntos, sem parar”. Não podemos privar nosso corpo, alma e mente de nenhuma das emoções da vida, pois “são tantas vividas, momentos que choramos sorrindo, dos quais jamais esqueceremos”.

When the end is near we’ have to say: “I did it my way; regrets, I've had a few, but then too few to mention; I did what I had to do, I've loved, I've laughed and cried, I've had my fill and my share of losing, but I did my way”. [1]


Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando necessário - alguém escreveu.

Músicas na Orgia: Epitáfio (Titãs); Marcas do que se foi (Os Incríveis); Emoções (Roberto Carlos); I did my way (Frank Sinatra).

[1] Tradução: Quando o fim está próximo nós temos que dizer: eu fiz o meu próprio caminho; eu tive alguns arrependimentos, mas são muito poucos para serem mencionados; eu fiz o que eu deveria ter feito, eu amei, eu sorri e chorei, eu tive minhas falhas e minhas derrotas, mas eu fiz o meu caminho (eu vivi a minha vida).


Boas Festas

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Evangelho, a Boa Notícia!

A LOUCURA DO CRISTIANISMO versus A LOUCURA DOS CRISTÃOS

 

Muito conhecido entre os cristãos de todas as eras, o Apóstolo Paulo (nascido em Tarso, na Cilícia, onde hoje se encontra a Turquia) foi o grande pregador dos ensinamentos de Jesus de Nazaré entre homens, mulheres e crianças excluídos pelo judaísmo e novo cristianismo pós-Jesus. De sua boca saíram algumas das palavras que carrego em minha "filosofia de vida", a saber: pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus... (Carta escrita aos Romanos, capítulo  1, verso 16). Mas por que isto faz parte de sua "filosofia de vida", Josimar? Simples, porque eu creio no Evangelho e aqui cabe a grande discussão. 

Ficarei ofendido se você vier com o silogismo utópico: quem crê no evangelho é evangélico. Isto não existe mais, Evangelho é uma coisa, evangélico é outra. Evangelho significa "boa notícia", "boa mensagem" ou "boas-novas"; alguém disse que clamavam os antigos romanos: eis o evangelho do Imperador! 

Evangélico é um membro de uma Igreja Evangélica geralmente sobrecarregada de e por dogmas, doutrinas e outras imposições; evangélico é alguém preso a cultos e rituais, um adepto ao cristianismo que vive em busca de dádivas, um contribuinte do Reino de Deus (o mesmo que fiel), um advogado de Deus etc e tal.

É da boa notícia dada por Jesus de Nazaré (filho de José e Maria) que não me envergonho. A boa notícia é que há salvação para o perdido, há acolhimento ao excluído, há justiça para o injustiçado, há água ao sedento, há comida ao faminto, há saúde ao doente. Isto se constrói através de uma sociedade justa e igualitária - ao meu ver este era o grito de Jesus: prosperemos juntos!

Todas estas carências estiveram presentes na vida de Jesus; passou fome, sede, esteve doente, preso, foi injustiçado e excluído. (Talvez Freud explique um pouco de seu ministério). Mas ele presenciou a assistência de Deus em todos os momentos de sua vida. Tudo sempre cooperou para que ele continuasse em sua curta missão.

"Sabedor" de que sua cabeça rolaria, pois todos que lutam contra as injustiças e as misérias enfrentam os poderosos da sociedade e logo vêem suas cabeças rolarem, tratou logo de persuadir outros homens injustiçados, oprimidos, cansados e sobrecarregados a seguirem-no e continuarem sua missão, ousando ainda mais após sua morte. Mas o que aconteceu? Após a morte de Jesus muitos destes homens se sentiram os donos da verdade!

A mensagem de Jesus sempre foi acolhedora, mas logo após a sua morte, melhor ainda, durante seu ministério, seus seguidores "sismaram" que os ensinamentos eram exclusivos a eles, os merecedores de tais palavras. Eles, por exemplo, ficavam indignados, tal como os opositores de Jesus, quando seu Exclusivo Mestre se rebaixava para conversar com uma mulher adúltera ou com um cobrador de impostos corrupto.

Mas eles continuaram a missão do evangelho, saíram vezes em caravanas vezes solitários a levarem saúde, alimento e nova perspectiva de vida aos povos. Graças a Paulo a boa notícia patentiada pelos apóstolos ganhou domínio público. O Evangelho perfurou os séculos e chegou até nós. Mas de lá para cá a louca mensagem disposta a quebrar todas as imposições da burguesia e ainda brigar com os políticos e demais corruptos da sociedade que somente escravizam a massa ganhou adeptos cada vez mais gananciosos. O Evangelho foi institucionalizado e se tornou Igreja Cristã ou Evangélica.

A boa notícia caiu nas mãos de pessoas loucas que à semelhança dos primeiros patentiadores se recuaram nos guetos religiosos onde ocorrem as extorsões e os estupros mentais e espirituais. O Evangelho Institucionalizado cresceu à mesma proporção do número de neuroses entre seus seguidores. E claro, tornar-se um líder entre o Evangelho Institucionalizado significa mudança de status social. Fico imaginando se o dono real da boa notícia fosse se aproveitar dela para ganhar uma grana, ele não morreria tão cedo, e nem tão cedo haveria alguém com tanta riqueza quanto ele.

É este quadro que vejo em minha frente todos os dias. Este triste contraste. O Evangelho que prega a liberdade de um louco, porém institucionalizado por homens loucos e ambiciosos. É este Evangelho Institucionalizado que leva as bruxas às fogueiras, persegue as minorias e condena o pecador em vez do pecado (delitos cometidos contra a vida do homem e da natureza).



É esta a imagem que me incomoda. E creio que algumas pessoas também estão incomodadas com isto. Como disse um sábio amigo, "acho que está chegando o tempo em que o templo irá emergir das pessoas e não imergir nelas". Creio que chegará o dia onde o Evangelho que emergiu de Jesus de Nazaré brotará também em outras tantas pessoas. De algumas ele já tem emergido e estas dificilmente vão se conformar com o "Evangelho Institucionalizado".

Quando isto acontecer não haverá mais Instituições Religiosas, ainda que hajam templos e edifícios para encontros cultuais. Os líderes serão apenas facilitadores e não Anjos Mensageiros e Impositores. Mas quando acontecerão estas coisas? Vai demorar...  

Observação Importante
Eu sou cristão evangélico. Tento seguir os ensinamentos de Jesus, assim como as leis sagradas/divinas presentes no corpo, na alma e na natureza. Creio que é possível uma institucionalização saudável de qualquer ideologia, porém esta instituição deve surgir de um grupo de pessoas onde a ideologia emergiu (brotou delas) e não por um grupo de pessoas onde tal ideologia imergiu (entrou nelas).

Paz, saúde, sabedoria e prosperidade a todos!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Bipolar, eu?


Síndrome de Vítima
Herdei uma medrosa mania de meu pai: não gosto de ir ao médico. E assim como ele, pouco me medico. Defendo que resfriados e outros problemas que, de quando em vez, nos afligem logo passam com um bom banho, leite quente ou noite de sono. Mas o questão não é esta. A questão é: tenho medo de remédios, agulhas, médicos e hospitais. Mas a culpa não é somente do Sr. Wantuil (rsrsrs)!

Entre o meu nascimento e meu sétimo ano de vida eu vivia muito doente; fiquei muito tempo em pronto-socorros, ambulatórios, clínicas etc. Segundo minha mãe eu tive anemia, bronquite, pneumonia e vários resfriados prolongados. Dá-lhe benzetacil - sinto dor só de ouvir este nome - novalginas, chás, agulhas, agulhas, agulhas e soros (malditos soros). 

Enfim, só mais uma: em uma daquelas distribuições de cobertores "vagabundos" para a população carente estava eu lá, um pobre menino de 12 anos a espera de um fino cobertor cinza. "Viva o Deputado 666! Viva! Ele é o cara! Viva!" Para coroar a celebração, um esperto puxa saco soltou um foguete (daqueles de 12 tiros). Sabe o que aconteceu? Ouvi somente 11 tiros, o último tiro - a bomba final - explodiu em meu ouvido esquerdo. Resultado: rodei chorando feito um cão sem dono e perdido em meio ao trânsito, perfuração do tímpano, ambulância, médicos, agulhas, materiais cirúrgicos em meu ouvido, timpanoplastia e mais agulhas. Não perdi sequer 1% da audição e nem ficaram cicatrizes, mas foi um trauma. Você já viu a reação de um cão ante um foguetório? Sou eu!



Psicose maníaco-depressiva
Mas não é somente a saúde do meu corpo que é instável. Já fui ao médico, tenho o sistema imunológico um "tiquim" mais baixo que o normal. Apesar de ser uma pessoa naturalmente feliz (leia o post anterior), não tive muitas oportunidades para viver alguns frutos da felicidade - alegria, amor, sexo, aventuras, caridade etc - e acabei vivendo uma inconstância sentimental. A conclusão disto foi uma vida, até ontem, de alternância entre os sentimentos de alegria/euforia e tristeza/desânimo. Anote isto: quem é feliz também fica triste, mas a tristeza de quem é feliz é apenas um breve momento. A tristeza é necessária, mas é  foda, algumas vezes precisamos dela para voltarmos à realidade e refletirmos sobre a vida. Até bem pouco tempo atrás ela era bem constante. Estes momentos de tristeza que estou tentando expressar aqui são momentos de completo desânimo, tudo fica insípido e inóspito; nestes momentos os amigos são desnecessários, a família um tropeço, Deus uma ilusão.

Quando eu ainda estava entre frustrar as pessoas que tanto investiram em minha formação acadêmica (quatro anos de Teologia - acerca de R$40000,00 - com finalidade ao pastorado presbiteriano) ou entrar de cabeça em um mundo que em mim gerava conflitos, dúvidas, medos, desconfianças, frustrações e irritações, eu passei por muitos momentos tristes. Eu dormia, sorria e vivia pouco, pouco dormia, sorria e vivia. No momento oportuno falarei mais sobre isto.

Nesta fase, em um dia qualquer eu acordava! Lá estava o sol radiante, ainda que para além das nuvens. Eu abria um sorriso antes de abrir os olhos, cantava antes de bocejar e continuava sonhando mesmo estando acordado. O outros ao meu redor diziam: ê rapaz animado, sossega sô! E eu ficava pensando: ô povo desanimado. Estes eram os meus momentos de transtorno afetivo bipolar, denominado até bem pouco tempo de psicose maníaco-depressiva! Eu me esquecia das temíveis decisões da vida e das demais intempéries. No mundo existiam somente Deus, a  família e os amigos; todos amáveis, amados e amantes.

Quem me conhece no dia a dia dirá: mas você ainda é assim! Bem, sou assim sim, mas bem menos assim. Juro "procês" que ainda procuro um psicólogo (suas agulhas não são de aço, mas penetram além do sangue).

Tenho quase certeza que o corpo sinta o que a mente/alma sente e ambos adoecem e se curam, ou seja, uma sincronia em suas bonanças e tempestades. Alma/mente/espírito/coração doente, corpo disposto à doenças! Mas aqui não há silogismo!     


E você com isso?
Esta é a dinâmica da vida. Não vivo a utopia de crer que pessoas felizes ou infelizes viverão em constância de sentimentos. Isto chama-se dinâmica, para que haja movimento deve haver dinâmica entre, no mínimo, duas coisas. Dinâmica é bipolarismo. Claro que quando falamos da doença chamada Transtorno Afetivo Bipolar, que envolve muito mais coisas além de estar triste esta semana e alegre na semana que vem, devemos procurar um profissional da saúde para nos orientar, com ou sem agulhas. 

Mas quanto aos nossos sentimentos para com os outros, aos nossos amores, aos nossos sexos, aos nossos pensamentos, às nossas crenças, enfim, às nossas preferências, somos livres para alternarmos e provavelmente contrairemos o mal de Alzheimer e muitas outras psicoses se estagnarmos, se entrarmos para a escola da mediocridade.

Acredito que o corpo e a mente sãos buscam naturalmente a sobrevivência e nunca nos permitirão dar o passo além da vida, então não se preocupe quando você alternar. Não flagele-se quando tiver que ir ao outro pólo. E não se esconda quando tiver que voltar ao seu primeiro pólo.

Quanto aos meus pensamentos fico feliz por não serem estáveis, mesmo que para alguns isto seja um defeito.
Quanto às minhas crenças/certezas fico feliz por não serem estáveis, mesmo que para alguns isto seja um defeito.

Alterne! 

Pra dilatarmos a alma temos que nos desfazer. Pra nos tornarmos imortais a gente tem que aprender a morrer com tudo aquilo que fomos e tudo aquilo que somos nós. (O Mérito e o Monstro: O Teatro Mágico. Composição: Fernando Anitelli)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Felicidade não é conquistável!

Espero tão somente voltar e dizer: Felicidade é conquistável!



Dizem que a felicidade é um conjunto de sentimentos que leva à satisfação, ao prazer. No meu maior grupo social (formado por pessoas religiosas) a felicidade está inteiramente ligada à uma dita estabilidade espiritual. Entre os seletos amigos defendo que, a felicidade é uma espécie de dom. Alguns a têm, outros não.

Pensando assim vejo que a tristeza não é o oposto da felicidade; felicidade não tem antônimo. O que opõe a tristeza é a alegria. Simples.

Não sou bom o suficiente para contrariar os séculos de estudos feitos pela filosofia, religião e psicologia - mesmo achando que as primeiras cogitam demais. Mas até agora, as explicações filosóficas e religiosas são tão superficiais que em seus meios há infelicidade para "dar e vender". Os que são naturalmente felizes são, conseqüentemente estáveis espiritualmente. A segunda é consequência da primeira e não o contrário. Mas ao entender que de tal estabilidade provem a felicidade, os felizes começam a cobrar estabilidade dos instáveis e infelizes, e os infelizes, coitados!, adotam a auto flagelação.

Será mesmo que a felicidade está em um tipo de vida ou comportamento pessoal e/ou coletivo? Talvez eu esteja optando pelo lado mais fácil; pode até parecer simplista, mas não creio assim. Não é conclusivo, aliás, sou uma "metamorfose ambulante", mas tenho observado muitas pessoas ao meu redor e tal empirismo tem me levado longe neste duelo: felicidade conquistável X felicidade natural. 

Pode até parecer clichê, mas você já observou como há pessoas que tem inteligência, dinheiro e poder, e são infelizes? Na contramão temos miseráveis e ignorantes que irradiam felicidade - não somente alegria - felicidade. Não é verdade, como dirão os religiosos, que o dinheiro não trás felicidade; nem é verdade - como dirão alguns psicólogos - que a miséria e ignorância anestesiam, acomodam ou condicionam o indivíduo. Fui miserável e ignorante, hoje estou começando a construir a vida e estou longe de ser ignorante. E posso dizer: nada disto afasta ou trás felicidade. 

Veja o que nossa Santa Wikipédia diz: Investigadores em Psicologia desenvolveram diferentes métodos, por exemplo, o Inventário da Felicidade de Oxford, para medir o nível de felicidade de um indivíduo. Nestes teem-se em conta fatores físicos e psicológicos. Em investigação a felicidade é assim relacionada com fatores como: envolvimento religioso ou político, estado civil, paternidade , idade, rendimento, etc. A felicidade é um sentimento interno e terno.

Claro que peguei o que corrobora com meu pensamento, mas acho que  texto não se contradiz. Assim como é possível que a atração homossexual não seja uma escolha, mas sim uma "imposição orgânica", não seria possível o mesmo acontecer com a felicidade?

O sociólogo holandês Ruut Veenhoven, professor da cadeira de felicidade humana (que tosco) da Universidade Erasmus de Roterdã e editor do Jornal de Estudos da Felicidade (ambos com sede na Holanda), é um dos muitos estudiosos que  realizam aquelas pesquisas de "dinheiro + saúde + educação x satisfação sexual + etcs = felicidade". Este sociólogo diz que em uma de suas pesquisas os brasileiros atingiram 7 pontos de felicidade em uma escala de 1 a 10, uma nota média - disse ele. Em sua pesquisa, ainda disse que países mais pobres tiveram notas abaixo de 4, países desenvolvidos acima de 7,7. Como ele, outros sociólogos vêm associando os fatores pessoais e do meio para determinarem o que faz as pessoas felizes.

Gosto muito de um poema utilizado pelo Pão de Açucar em uma de suas propagandas. Ele fala sobre coisas tão simples que podem fazer as pessoas felizes, tal como "arroz e feijão, goiabada com queijo, um beijo na boca, ou jogar futebol". Apesar de a idéia da felicidade nascendo através das coisas estar na essência do poema, vejo que as coisas simples são intensas para as pessoas felizes e que para as infelizes elas podem se tornar monstros mitológicos.

Este ano ganhei um amigo (amigos são a família que nós escolhemos - ah, Shakespeare). Ele é feliz! A felicidade é tão simples pra ele. Posso garantir que ele tem alguns motivos para ser um dos meninos mais revoltados, mas a felicidade dele não permite a revolta inconsequente. (Anote isto: não se acostume com o que não o "faz" feliz, revolte-se quando necessário). A felicidade dele o permite sonhar; ele sonha, voa, vai longe... Quando ele está triste ele está feliz. Quando ele briga, permanece feliz. Contudo, tenho no máximo uns quatro amigos felizes.

O psicólogo David Lykken, que trabalha no Centro de Estudos Avançados em Ciências de Comportamento da Universidade de Minnesota, comparou dados sobre 4.000 pares de gêmeos idênticos e percebeu que, na maioria dos casos, quando um tem tendência a ver o mundo de modo otimista, o outro tem também – e quando um é pessimista o outro é igual. Ou seja, existe um forte componente genético na nossa tendência a ser feliz.  E quem pode determinar sua genética?

Se isto for comprovado entenderemos porque há pais infelizes com filhos felizes, filhos infelizes e pais radiantes. Irmãos opostos - logo indispostos. De uma coisa eu sei: um feliz em meio a infelizes se torna a ovelha negra, por conta dele os infelizes questionam:
- Onde foi que erramos?

Poxa vida! Eis ai um infeliz feliz!

Mas e aí, e aí, e aí?

Não acho que os prazeres da vida estão a disposição somente daqueles que são felizes. Somos animais capazes de sentir dor, alegria, tristeza, gozo etc. Mas tudo será sempre menos prazeroso aos infelizes. O prazer, para os infelizes, estará sempre em coisas grandes. A felicidade será sempre um "I have a dream" para os infelizes. Já "um beijo na boca, um pedaço de queijo ou arroz e feijão" serão sempre, aos felizes, um terno prazer.

É possível que os infelizes sejam sempre os suicidas e milionários injustos, políticos corruptos e outros que buscarão sempre o status como forma de se sobreporem às demais pessoas da sociedade. Provavelmente alguns deles serão líderes religiosos ou políticos que precisam de um ego constantemente massageado (ai está a felicidade deles).

É possível que os felizes vivam da arte, ou seja, expressem-se e tentem a levar às demais pessoas - o que é uma "puta falta de sacanagem". Talvez eles estejam por ai, aparentemente acomodados pelas ruas, vendendo pulseiras de bambu, ganhando a vida com a música ou pintura.

Admito que o meio influencia na descoberta da felicidade. É difícil não sentir culpa pela felicidade quando  você vive em meio a desgraça. Mas a felicidade contagia e dá às pessoas ao redor um pouco de paz, alegrias. Enfim a felicidade dos felizes anestesia a dor dos infelizes. 

Infelizmente isto parece tão cruel quanto alguns dogmas que, na tentativa de exaltarem o Criador, desprezam a criatura e ainda a condenam por não serem escolhidas, justificadas bla bla bla bla bla bla....


   
Contudo...
espero tão somente voltar e dizer: Felicidade é conquistável!