sábado, 3 de setembro de 2011

O Medo Nosso de Cada Dia

É pena que você pensa que eu sou seu escravo, 
dizendo que eu sou seu marido e não posso partir... 
(Medo da Chuva - Raul Seixas)

... mas é assim mesmo que o medo faz com a gente: somos seus maridos e ele não nos deixa partir. Das muitas pessoas que já compartilharam suas vidas comigo, constatei a presença desta pequena tortura, o medo. O medo do que "vão pensar de mim" é um dos maiores deles. A busca por corresponder aos valores da sociedade é fruto de um medo, o medo de ser diferente. Muitos, dentro e fora do contexto eclesiástico em que vivi, são movidos pelas aparências. Certa vez um professor de psicologia perguntou à minha turma de teologia: quais as máscaras que vocês usam? 

Não estamos alienados aos meios em que vivemos. Somos formatados e formatamos com as "manias" próprias de cada contexto. No "mundo" familiar somos cheios de manias e sentimentos próprios: perceptivelmente ou não, vivemos como os nossos pais (Belchior). No mundo religioso o mesmo acontece, costumeiramente de forma mais severa. 

Neste somos formatados por uma família muito maior e vivemos sob expectativas o tempo todo; expectativas de cumprir os mandamentos de Deus, o qual dias é apresentado como castigador, dias como agraciador. Todos dizem saber o que ele pensa, o que ele quer, o que fará, o que ele quer dizer e o que diz, sente etc. E não digam que eu não entendo que castigo e graça vivem juntos; o castigo religioso, na maioria das vezes, não é graça divina, mas incompreensão e puritanismo humano. Não acredito num "maléfico castigo divino", mas sim nas consequências naturais e proporcionais aos erros.

Fora destes dois ambientes vivemos no mundo dos trabalhos, estudos, namoros etc. Tudo isto pode servir de "combustível" para nossos medos. Estes outros grupos nos convidam a comportamentos que muitas vezes são conflitantes com os religiosos (todos temos princípios religiosos - institucionalizados ou não) ou familiares. Então nos adaptamos ao meio. Isto não é mal e é comum. Porém há alguém dentro de nós que é o que é em qualquer lugar, e é este alguém que não podemos deixar morrer envenenado pelo medo de ser quem ele é aonde quer que estejamos.

Estou falando mais uma vez, aqui neste blog, de liberdade, libertação, libertinagem! Liberdade pra dentro da cabeça (Natiruts), pois é lá que se encontram as nossas maiores prisões. É lá que encontramos os medos de começar ou terminar um relacionamento que têm um futuro misterioso ou um passado desastroso. É lá que encontramos as dificuldades em terminar um relacionamento que só causa sofrimentos, mas que porém foi o que "abriu as portas" para um novo prazer da vida. É lá que está o medo de tentar novamente com outras pessoas e sofrer tudo outra vez, ou, quem sabe, não ser melhor e sim pior que o anterior. Expectativas!

O medo de dizer "não quero mais" habita ali também. Quando somos dominados por este vivemos infelizes, fazendo aquilo que não gostamos ou concordamos, pois, caso façamos isto, as pessoas sofrerão (isso chega a ser presunção). Mas essa de sofrer para que os outros fiquem felizes é um martírio utópico demais. Se você está infeliz, fará tudo pela metade. Não serás inteiro contigo e com os demais.

Não encontrei o autor desta imagem,
se alguém souber me avisa, por favor.
Eu convivi e conversei com algumas pessoas com uma das maiores prisões da humanidade inserida em uma humanidade "nojenta" (não encontrei outra palavra): o medo de extravasar seus impulsos sexuais. (Acho que isto tende a mudar!). Tudo muda o tempo todo no mundo e as coisas se renovam à medida que o homem toma a consciência de que seu corpo é feito de prazer em cada célula. Não me refiro somente à homo, bi, "tri", "octossexualidade", mas sim à liberação de quem você é, até mesmo com seu relacionamento sexual "normal". Escravizando-se a este medo você não é completo, mais uma vez, e provavelmente está colocando alguém "inocente" nesta história toda, a fim de manter sua "boa reputação".

A filosofia de Heráclito nos mostra que "um homem não se banha duas vezes em um mesmo rio, pois na segunda vez ambos não serão mais os mesmos". Contudo, entendo que somos um mosaico que agrega novas peças a cada momento da vida. O rio também. Ele não é o mesmo, mas já esteve em outro lugares e não deixou de existir, levou e deixou algo em nós e nas fendas por onde passou.

Eu só quero dizer com isto que "não há nada de novo debaixo do sol" (Salomão) e que "o sol vai voltar amanhã" (Renato Russo). Se tudo se modifica, também se eterniza no tempo, eternizando o próprio tempo. 

Ah, há tantos medos que tenho medo de entregar a você os meus medos continuar falando sobre o medo. E se lembrem que "medo é diferente de prudência".



Se Liga Aí
Gabriel O Pensador

A gente pensa que vive num lugar onde se fala o que pensa. 
Mas eu não conheço esse lugar. 
A gente pensa que é livre pra falar tudo que pensa, 
mas a gente sempre pensa um pouco antes de falar!

Mas não adianta só pensar. 
Você também tem que dizer! 
Mas não adianta só falar. 
Você também tem que fazer! 

Deixe ele viver em paz. 
Cada um sabe o que faz. 
Deixa o homem ter marido. 
Deixa a mina ter mulher. 
Cada um sabe o que quer. 
O que é que tem demais cada um ser o que é? 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seus comentários e sugestões são muito bem vindos.