sexta-feira, 16 de março de 2012

Caçador de Mim


De Jacó, um prato de lentilhas, aos psicolojistas, psicaloteiros e psicólogos.


Por aqueles dias ouve um jovem guerreiro que se aventurou a desbravar as matas do pomar de sua casa. O pequeno menino saiu em silêncio, atento aos mínimos sons do ar que estava quase morto. Os seus passos faziam um som ensurdecedor. As folhas secas no chão rangiam sob seu peso. Sua espada de vareta cortava o ar. O cheiro do peixe no forno o perseguia. O grito de sua mãe o assustou.

– Estou aqui no quintal mãe [...] tudo bem, quando o jantar ficar pronto me chama.

Aqueles olhos castanhos voltaram a mirar o horizonte a poucos metros do fim, barrado por um muro gigante, de tijolos de barro. O silêncio dispersara o a voz de sua mãe. Os sons de seus pés sobre gravetos e folhas cantaram em companhia.

Então passou por ele uma borboleta muito veloz, com as asas batendo feito beija-flor e um rosto sorridente. O coração acelerou, mas logo se acalmou e o menino falou baixinho: olá, André, vem comigo até o fim desse jardim?

Então ele se aproximou de uma roda de árvores que pareciam julgar alguém no centro entre elas. Ele passou entre duas, sem nelas encostar e se pós como réu. Olhou pra cima e viu as feições tão duras e ásperas. Ele disse: quem sou eu? O que eu fiz para merecer este castigo ou esta dádiva? Por que estou aqui? Quem foi o tirano ou generoso que me concebeu?

O silêncio parou novamente, um vento forte o interrompeu. Os galhos balançaram. Caiu uma dúzia de folhas. Bateram no chão e voaram novamente.

– Volta pra casa, menino!

O pequeno guerreiro tirou suas roupas e sentiu frio, assentou-se no chão, agarrou seus joelhos e se aqueceu. Sua costa sentiu resfriou e o fez tossir. Parecia estar cheia de fumaça por dentro, pois tanto tossia. O garoto acendeu um cigarro e bebeu quase todo leite de sua mamadeira. Olhou para o lado e começou a rir. O André não havia voltado. E toda aquela cena era de uma natureza assombrosa e caótica. Tudo nascendo e morrendo e, se não por sua racionalidade instigante, tal como as folhas no chão, ali ele estava e o próximo chamamento de sua mãe teria um tom mais áspero na voz. Era melhor se vestir, apagar o cigarro, fazer um gargarejo com leite, lavar as mãos e ir jantar. Ele voltou pra casa, mas nunca mais saiu do pomar, que se tornara um jardim cheio das coisas que ele gostava, do André à fumaça, das maravilhas às próprias desgraças.

*Não sei, definitivamente, porque escrevi essa loucura. Eu estava totalmente sóbrio (risos).