terça-feira, 26 de julho de 2011

Olhando pro Chão

Liberdade talvez seja isto: somos livres para escolher prisões diferentes. (J.Souza)


Enquanto eu andava pelos caminhos que me guiavam, olhava sempre para o chão. Eu estava a procura de não olhar nos olhos maldosos, caluniosos, difamadores, medrosos, soberbos, arrogantes, investigadores, profundos. Olhando para os próprios pés eu percebia que só me importava o caminho. Mas o caminho eu mal via.

Ergui um pouco a visão e vi todos escondendo aquilo que queriam mais mostrar. Todos com vergonha das vergonhas que só a maldade pode enxergar. Era noite, era dia, ninguém ousava me mostrar aquilo que eu queria ver, aquilo que eu mesmo queria mostrar. Estava tudo vedado, ocultado de quem mesmo ousasse pensar. Voltei a olhar pro chão.

Não contentando com meus pés ou a vergonha encoberta, subi os olhos ao coração. Todos batiam no peito, todos cheios de emoção. Mas sobre eles lágrimas desciam e subiam. Desciam as próprias dores, subiam as dores alheias. Fiquei angustiado e derrubei minha própria lágrima no chão. A dor de todos neste momento subiu, inundando também o meu coração. Voltei a olhar pra baixo, comecei a inundar o chão.

A vida não fazia mais sentido. Os caminhos não eram meus, eu apenas os aceitara, não os escolhera ou os descobrira. Eu andava por caminhos que não eram os meus, por isso olhava para o chão, pois pra onde quer que olhasse enxergava solidão, a falta de uma chegada, o medo dos erros, as dores que voltam e que vão. Decidi então olhar pra frente, erguer a cabeça e encarar a todos. Sabe o que vi?



Todos olhando para o chão.

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