terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Feliz Mesmo Ano


Então é Natal, a festa cristã! (Já foi!)
Feliz Ano Novo. (Novo?)

Eu, chato que sou, acredito que Natal e Ano Novo são dias como os outros, passam em 24 horas. É claro que, uma vez que estamos em fragmentações infinitas da sociedade, um novo ano representa um ano a mais nos estudos, um a menos no tempo de serviço, um perdido pra quem perde alguém, um ganho pra quem acerta os números da Mega Sena (este caso será o meu) etc. 

O sentido do Natal, aliás, é este mesmo que todo mundo vive, e não tem outro. Parem de falar que "as pessoas não conhecem o verdadeiro sentido do Natal"; a diferença é que alguns acrescentam trinta minutos de mensagem falada por "alguém que sabe do que fala" aos mesmos rituais sociais, morais e comerciais de todo mundo. Parafraseando Cauê Moura, se tem comida e presentes, todos aproveitam: ateus, cristãos ou judeus. Se você não morrer antes da meia noite destes dias, passá-los-á da mesma forma que todo mundo . 

A minha questão é:

[...] não desejo 24 horas de felicidade nos demais dias do ano, não precisa ser diferente no dia 25 de dezembro. O que desejo neste dia é que os rituais se estendam aos demais dias do ano. Isto sim seria legal. Desejo que você continue misericordioso durante o ano, que toda essa fartura e desejo de compartilhar continuem. Desejo Dádivas (dar, receber e retribuir). Desejo os sorrisos deste dia. a continuidade no dia 25 no dias 26, 27, 28... 

Assim também desejo no "Novo Ano". O Ano Novo é apenas o marco inicial de mais uma de nossas fragmentações  harmonizadoras da sociedade - precisamos dividir para não nos perdermos no espaço-tempo. A verdade é que são poucas horas, minutos e segundos de vibração. O que eu desejo neste dia? Continuidade. Mas poxa vida! Por que não desejar novidades?

Não quero desejar o novo, pois o novo pode representar o fim de algo ou a necessidade de recomeçar. Recomeçar, tal como terminar, é algo muito dolorido que exige de nós uma força extra. A continuidade é um dom de quem é bem planejado, de quem pensa no futuro o tempo todo, sem deixar de lado o presente ou desprezar o passado. A continuidade é exclusiva de quem não deixa para planejar na contagem regressiva as futuras frustrações advindas dos impulsos de uma mente bêbada (de água benta ou profana) e cativada pela emoção da contagem regressiva (ou oração progressiva). Eu resolvi parar com o desgaste dos projetos de um ano que nasce em 10 segundo. Perder peso, parar de beber ou fumar, praticar esportes, concluir ou começar projetos, estabelecer-se ou restabelecer-se amorosamente, dentre outros projetos, só serão eficazes se forem frutos da continuidade. 

Como vai o natal hoje, 27 de Dezembro? 
Você não me ligou desejando um dia feliz, creio que o sentimento já passou. :( 
Que pena!

Se for preciso recomeçar algo, meus pêsames, irá doer.
Porém, Feliz Novo Ano. 

Conhece-te a ti mesmo, e verás que tens algo a continuar!


Deixo aí a "Receita de Ano novo"
Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo [...] não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumidas, nem parvamente acreditar que por decreto de esperança a partir de janeiro as coisas mudem. [...] É dentro de você que o Ano Novo  cochila e espera desde sempre.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A magia de quem volta (continua) a ser criança


Velhinhos são crianças nascidas faz tempo... (O Teatro Mágico)
(Depois reposto com imagens) 

Conheço velhos rancorosos. Estes trazem no olhar e nas mãos as profundas e duras marcas da vida. Não sorriem, zangam-se, esbravejam e dizem palavrões. Não são loucos, são conscientemente infelizes. São chatos que não conquistam o próprio neto, conquistam o desejo mórbido das noras e genros, dão medo, são bruxos. Reclamam da vida o tempo todo; de todas as suas décadas de injustiças. Desrespeitam o próprio corpo, correm, apressam-se em ir e voltar. Suas sentem e ressentem suas duras dores. Negam a todos a ternura que guardam para seus animais, e só, sozinhos. Não encontram cor na vida; ela é sombria, e ponto. Cospem no chão, na cara, no prato, na pia, na cama, na cova. São gastados pela vida, desgastados pela própria mente, desgostosos de si mesmos.

Do outro lado há as velhas crianças que se tornam mais crianças a cada dia. Para estas a dor é só um corte passageiro. Vivem a sorrir e cantar. Falam comigo e falam sozinhas. Caminham vagarosamente pelos jardins. Não têm pressa do tempo que ainda não veio. Não têm remorso do tempo que então  já se foi. Não tem gatos, tem gente que está sempre sorrindo, admiradas. A morte é um tormento somente da gente que rodeia esta gente sã.

Estas velhas crianças contam, sorrindo, as intempéries da vida; choram, sorrindo, ao lembrarem-se do momento que agora revivem: a doce infância. A morte não consegue lhes sinalizar a vinda nem mesmo nas tantas dores. A alegria lhes produz morfina. Suas histórias acalentam até os ouvidos mais apressados. Suas orações são conversas que nos fazem abrir os olhos e procurar uma terceira pessoa ao redor. Sua bênção tem cheiro e cor. Sua voz baixa nos faz aproximar os ouvidos, mas é um truque, elas querem que encostemo-nos nelas, são efetivas no afeto.

Sabe qual a única semelhança entre essas velhas pessoas velhas? Ambas se construíram ao longo da vida. Concluo que, de fato, quem não for como uma criança não ganhará um doce quando ficar velho, mas sentirá a morte mais amarga a cada dia. A Morte é doce, é o presente da vida!