domingo, 30 de outubro de 2011


Perdi vinte em vinte e nove amizades 

por conta de uma pedra em minhas mãos. 

Me embriaguei morrendo vinte e nove vezes, 

estou aprendendo a viver sem vocês 

Já que você não me quer mais


Passei vinte e nove meses num navio 

e vinte e nove dias na prisão. 

E aos vinte e nove, 

com o retorno de Saturno, 

decidi começar a viver. 


Quando você deixou de me amar 

aprendi a perdoar e a pedir perdão. 


E vinte e nove anjos me saudaram, 

e tive vinte e nove amigos outra vez. 


(Renato Russo)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Gente Humilde

Tem certos dias em que eu penso em minha gente e sinto assim, todo o meu peito a se apertar [...] e aí me dá uma tristeza no meu peito, feito um despeito de eu não ter como lutar [...] e eu que não creio peço a deus por minha gente, é gente humilde, que vontade de chorar. (Chico Buarque)

Não quero aqui discutir a parte que mais chamaria a atenção de algumas pessoas que lêem este blog: o ateísmo de Chico Buarque, ou o meu, como insistem. Na discussão medieval sobre o crer ou não, lutar e matar em favor de uma crença, esquecem-se da “gente humilde que não tem onde morar”. Jesus não se esqueceu desta gente! Já é a segunda noite de sono que perco pensando no caos do país que se pretende  primeiro mundo. Pode até parecer paranóia ou falso sentimento social, mas não consigo receber as notícias de tragédias sociais prenunciadas e dizer simplesmente “foda-se” (queria que fosse assim). Eu não digo que tudo está uma porcaria em nosso país, sei que o governo tem bons projetos sociais e políticas públicas; mas... Com Roberto Carlos compartilho a canção que diz “[prossigo] na fé que me faz otimista demais” (Emoções). Mas temos muita coisa a socorrer.

Passei há pouco pela rua, quando vi uma senhora caminhando com um pão recheado com "sei lá o que" e um copo de leite. Ela se dirigiu até um rapaz negro, provavelmente com pouco mais de 25 anos, mas que aparentava estar próximo aos quarenta, e os deu a ele, que aceitou alegremente e, talvez, já pensando nas mãos que lhe dariam o almoço. Há um dia recebo a notícia de que uma mãe morreu de forma precária, deixando seus filhos ao vento. Há menos de um mês outra mãe morreu atropelada, enquanto dormia bêbada entre a rua e a calçada. Uma mãe acorrentou a filha viciada que fora rejeitada pelas políticas sociais e foi presa. Um pai, vendo seu filho roubando, espancou-o até a morte. A esposa, vendo seu marido destruindo suas vidas com o alcoolismo o envenenou. Um pai viúvo, em consequência à rebeldia do filho que tinha como única obrigação os estudos, arrastou-o seminu pelas ruas. Filhos da puta ateiam fogo a um sem teto. E por aí vai...


Estudo Ciências Sociais não na esperança de salvar o mundo, mas de levar a "alta sociedade" à crítica dos valores que permitem a ascensão de poucos e a ruína de muitos. Milton Santos diz que “enquanto muitos dormem com fome, outros poucos não dormem pela fome de alguns”, eu ainda diria que enquanto muitos morrem de fome, outros tantos, economicamente obesos, trabalham em favor da fome de alguns. O capitalismo tem tudo pra ser um sistema justo, dando ao homem, independentemente de ser naturalmente afortunado – como diria Maquiavel – ou não, condições para sua ascensão, felicidade, saúde, prazer etc. Mas muitos se utilizam de tal sistema para alimentar a própria ganância através da exploração e privatização dos bens naturais e comuns a todos; vêem cegamente pessoas que não podem comprar até mesmo a água que os monopolizadores vendem, por exemplo. Não é o sistema que acaba com os homens, são os homens que moldam o sistema à sua imagem e semelhança.

Os Direitos Sociais (Capítulo II da Constituição da República Federativa do Brasil) são constantemente legados ao governo, lavando as mãos da sociedade. Mas não pode ser assim. Temos políticas públicas que proporcionam o básico para estas pessoas, mas a humanidade do homem se dá quando este se volta para o próprio homem e não para o próprio ser. E o conceito de básico passa longe das ambições de muitos. Ser ou não ser, eis a questão? Penso, logo existo? Caros William Shaksperae e Descartes, nada somos ou existimos se somente divagarmos sobre nossa própria existência!

Lutamos por nossos interesses enquanto membros de alguma minoria, porém não gritamos em favor dos que estão emudecidos pela fome e outras tantas injustiças. Adoecemos e até morremos estressados por não conseguir atender as exigências sociais e não percebemos que o vício dos viciados são antidepressores do sistema nervoso chamado sociedade egoísta - e não capitalismo. A salvo daqueles que mesmo carregados de oportunidades optam por lesar a sociedade (e estes deveriam ser retirados dela até que se provasse psicológica, biológica e socialmente sua readaptação), criamos com nossas próprias mãos os nossos salteadores. Não estou justificando qualquer crime daqueles que têm pouca coisa na vida, antes, estou dizendo que é possível melhorarmos as coisas a tal ponto de fazer com que o crime não seja mais uma saída para a sobrevivência. 

Somos vítimas do nosso próprio egoísmo que destrói o nosso coração (Será – Renato Russo).