terça-feira, 27 de novembro de 2012

Filhos da Pátria

"A Terra é boa, o povo hospitaleiro, o Tio Sam de cara percebeu que era só plantar e colher o tempo inteiro..." André Luiz

Alguém disse que no Brasil confunde-se conflito de ideias com rivalidade pessoal. Esta não é minha intenção, contudo não posso deixar de contrariar alguém porque é meu amigo. Então, desce a letra! :D

Joaquim Barbosa, Pelé, Marcelo Gleiser, Santos Drummond, Padre Landell, Carlos Chagas, Oswaldo Cruz, Carmem Miranda, Eike Batista, Chacrinha, Juan José Giambiagi, Florestan Fernandes, Paulo Freire, Vital Brazil, Milton Santos, Oscar Niemeyer, João Magueijo e outros cientistas, artistas, esportistas e tantos “istas” bem quistos mundo a fora, todos vós sois esquecidos e desprezados por aqueles que rezam: o Brasil não presta, é uma roça, nada tem de bom e só contamina o mundo. 

[Como este blog não é o Wikipédia ou muito menos pretende ser pertinente em biografias, apresentei alguns nomes acima com base em uma rápida pesquisa feita no São Google sobre "personalidades brasileiras no mundo". Se você não conhece alguns deles, abra uma aba aí e pesquise. Caso contrário meu texto ficaria mais extenso que o habitual.]



É com um longo suspiro que penso em cada palavra deste texto. Sou declaradamente apaixonado pelo Brasil e acredito que ele será um dos melhores países do mundo para viver, e penso nisto sem utopia ou cegueira vinda de qualquer patriotismo alienante. O acesso à informação está ajudando muito neste processo. Nossos pensadores estão se expondo mais, os bons estão sendo exaltados e aclamados, os melhores privilegiados, a mentalidade religiosa não tem mais a força que tinha sobre a educação e a formação moral de nossa sociedade. Nossas mentes brilhantes que estão ganhando espaço em nossas universidades e nossos grandes centros de pesquisas como a EMBRAPA, BUTANTAN, FGV, FIOCRUZ e outros, e agora estão saindo mundo a fora, captando e levando conhecimento (biodiesel) . Quanto à diversidade climática do nosso país, fauna, flora, ausência de grandes catástrofes naturais (furacões, terremotos, maremotos) e potencial para energias renováveis, nem preciso laurear. O povo tem saído às ruas para lutar por seus direitos. Cariocas e capixabas pelos royalties, "minorias" por seus direitos, mulheres contra a violência, ateus pela laicidade, educadores pela educação, jovens contra a corrupção e até os maconheiros estão dando as caras. Sensacional! :D

Contudo, alguns amigos, alguns escritores de influência em periódicos, "intelectuais da internet" e um tanto de inoperantes críticos da "podridão do Brasil e seus idiotas" parecem ignorar todo o processo de evolução social, histórica, política, econômica, educacional ou ainda geopolítica que passam TODOS os povos. A Holanda se formou Holanda com muita evolução histórica. A humanidade evoluiu lentamente do despotismo à organização democrática e ainda há muita coisa pra acontecer (quiçá chegaremos à plena exploração espacial). É tão difícil entender isso? Antes mesmo de começar a cursar Ciências Sociais eu já tinha essa visão! Mamãe ensinava: somos diferentes um do outro, cada um tem seu tempo!Estes "críticos", desconsiderando o processo de evolução de cada povo (e isso é bem complexo), pecam em comparações injustas entre o Brasil e países como Holanda, Suiça, EUA ou Inglaterra. E o pior é que líderes políticos caem no mesmo erro, por isso, talvez, falham tanto em suas propostas. Estes imaginam que é só pegar o dinheiro, construir escolas super modernas e colocar os alunos lá. Ah se fosse simples assim! Há um processo longo de transformação social e até mesmo cultural para que estas coisas sejam eficazes. Admiro, por exemplo, o melhor Senador do Brasil, Cristovam Buarque, contudo, dentro das propostas dele, eu ainda faria algumas transformações pareadas à reforma na educação. Concordo que de fato precisamos evoluir muito na formação de uma mentalidade coletiva sadia que priorize educação, saúde, ciência e tecnologia. 

Precisamos lutar muitos mais por nossos direitos e nos atentarmos muito mais aos nossos deveres, é fato. Mas achar que não temos nada disso é muita superficialidade na análise crítica da sociedade brasileira. Ver uma pegadinha perigosa (mas muito engraçada) como a do Silvio Santos que neste momento é comentada nas redes sociais e a usar para difamar o Brasil, dizendo que isso é coisa de brasileiro ignorante é muita *&%$%@ (não sei que palavra usar).


Creio que esta confusão venha do fascínio que trás consigo a ideia de um mundo cada vez mais globalizado. Com a expansão da internet ficou muito fácil conhecer o mundo, com o crescimento da economia ficou muito mais fácil ultrapassar nossas fronteiras e com a ideia do cidadão cosmopolita, mais fácil ainda é abandonar a terra pátria e viver em outra (novo nomadismo?). É certo que com estas idas e vindas entre os países, a tendência é que o cidadão fique mais crítico ao comparar as disparidades entre os países, contudo é preciso cuidar para não cair no erro das comparações injustas, comparações feitas com um peso e duas medidas. Sem esse crivo iremos criticar um Brasil com brasileiros corruptos que vendem voto e virgindade (é fato) e enaltecer os EUA que vendem direitos civis. Sabe como fazem isso? Você pode conseguir o Green Card investindo na abertura de negócios de 500 mil dólares em regiões com maior índice de desemprego - seja um bom comerciante e, em no máximo 3 anos você será um cidadão norte americano com todos os direitos e deveres de um nativo. Isto é ou não compra? E se for preso na Califórnia, por 175 dólares diários você fica em "celas hotéis". Ambos se vendem, mas lá é o "not bad" do mundo.

Este fascínio tende a ofuscar o ensinamento de geografia lá do Ensino Fundamental, fazendo-no esquecer que o mundo se divide em países desenvolvidos, emergentes, subdesenvolvidos, pobres etc. Sendo assim, é, em lógica simples, irracional cobrar de um país pobre a estrutura social e até mesmo a mentalidade de um país desenvolvido. É como achar que nossa Integração Regional feita através do MERCOSUL (Mercado Comum ainda em construção) pode se tornar uma União Política (para onde caminha a União Européia, uma avançada União Econômica e Monetária). Se queremos sair do senso comum e das modinhas de "críticos da internet", não podemos ser tão simplistas e inocentes nestas comparações. Anote aí: querer que o Brasil e os brasileiros acordem como o Japão e seus japoneses, a Holanda e os holandeses ou os Estados Unidos e seus americanos é uma utopia maior que a minha. 

  
Ficar olhando pro lado, repetindo incessantemente que o Brasil não presta é, antes mesmo de falta de fé ou esperança em dias melhores, falta de "lógica racional" e otimismo mesmo diante de progressos visíveis da nossa sociedade. Aliás, essa síndrome de desgraça é uma herança cristã: tudo vai piorar, acabar, ser destruído, só a nova Jerusalém (EUA, UE, Japão) que interessa. Olhemos para o atual "herói nacional", Joaquim Barbosa. Jornais estrangeiros, tais como El País (espanhol), La Nación (argentino), Libération (francês) ou The Washington Post (americano) admiram os nossos últimos acontecimentos históricos, eleição do ministro à presidência do STF e condenação dos mensaleiros, mas muitos nem se importam e quando tentam enxergar um avanço brasileiro dizem: mas isso não acontecerá mais, vai dar em pizza, é mentira etc. Estes "sem fé e obras" simplesmente desprezam (ou até mesmo desconhecem) as preciosidades brasileiras que citei inicialmente, pessoas as quais foram ou são dotadas de inteligência, habilidades, bom caráter e a nossa característica nacional, afabalidade. E elas são BRASILEIRAS.

Nos dias atuais temos muitos pesquisadores brasileiros de notável importância para o mundo acadêmico internacional. Suas descobertas, teorias e criações ajudam na produção de conhecimento e desenvolvimento de novas tecnologias. A exemplo temos: a astrofísica Thaisa Bergmann, com 1.674 citações internacionais, a bióloga Mayana Zatz, com 1.375 citações, Jairton Dupont, com 1.646 citações e Paulo Eduardo Artaxo Netto, com 656 citações. E o que dizer dos nossos adolescentes que estão sendo selecionados para estudar fora do país, não porque são brasileiros, mas porque são estudantes dedicados e excelentes, seriam em qualquer país - o que espanta a alguns é que eles sejam "brasileiros".

A cegueira babação de ovo é tão grande que desprezam que nosso país já investiu milhões de reais para ajudar os imigrantes haitianos que vieram para o Brasil em busca de condições melhores de vida, através do Fundo Nacional de Assistência Social, mas prezam pela "genialidade" de um candidato republicano capaz de propor "auto-deportação". Sabe o que é isso? É fazer com que a vida de imigrantes ilegais fique deplorável a ponto de eles voltarem aos seus países de origem. Para isto priva-lhes moradia, trabalho, ajudas sociais e estudos. Lembro-me de Hitler e os judeus!Insistem que o Brasil só exporta porcaria, contamina o mundo com os brasileiros. Contudo, que inteligência têm uma plateia que aplaude a ignorância? Se a "cultura podre" brasileira cria "Aí se eu te pego", por que as "culturas superiores" dançam e cantam: "Oh If I Caught" e "Ai Si Te Beso" ou "שיר השיקסע"? (nota: essa música é uma merda).

Por fim dizem que deveríamos criar e não importar as coisas, por mais que elas sejam legais. O mundo seria um caos se privatizássemos a vida e a tornássemos cativas aos seus países de origem. Ficariam cativos aos seus respectivos países de origem o belo rock in roll, o admirado jazz, o gostoso blues, a boa macarronada ou mesmo o santo futebol. Na mesma via - e estou fazendo aqui uma história virtual - o mundo desconheceria a "bina", pela criação do mineiro Nélio Nicolai na década de 80, teria demorado a falar pela radiofusão, como fez nosso conhecido internacionalmente Padre Landell e ainda não estaria voando como fez Santos Dumont. Ah, e 135 países não teriam os nossos cosméticos sendo que muitos deles feitos de plantas nativas brasileiras. Imaginem só, o mundo enrugado e a gente lisinhos. :D

A pergunta que faço é: é justo encarar o Brasil e os brasileiros como o atraso da humanidade e ficar depreciando nossa cultura e história em comparações culturais inequivalentes, dando crédito somente às "Nanas Gouvêas" e "Latinos" e desprezando as nossas riquezas e evoluções?Sobre a terra somos todos iguais em glória e desgraça! 






Mas é assim: o brasileiro ama o mundo, e o mundo, nos últimos anos, vem em peso visitar e morar na “terra que mana leite e mel”, o novo Éden do mundo, onde tudo nasce. Aliás, dê uma olhada no último Censo sobre Imigrantes no Brasil.