segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O Medo da Morte


Eu sei que determinada rua que eu já passei não tornará a ouvir os sons dos passos. A morte surda caminha ao meu lado e eu não sei em qual esquina ela vai me beijar. Oh morte, tu que és tão forte que mata o rato e até o homem. Morte, morte, morte, que talvez seja o segredo da vida! (Raul Seixas)


Você já pensou em não morrer hoje? Isto mesmo, em não morrer. É nisto que pensamos o tempo todo. O nosso corpo luta a todo instante contra isto. Quando pensamos em morrer é porque, logicamente, há algo errado. Pensamos em morrer quando não encontramos mais saída para alguns problemas da nossa vida, alguns até banais. Aqueles que chegam ao ápice de tal desespero tiram suas próprias vidas, eis a máxima do desespero humano, disse Sören Kierkegaard.

O suicídio é a forma mais desesperada do ser humano em encontrar solução para sua crise existencial. Para que uma pessoa chegue a tal ponto todos os recursos do mundo tem que de se tornar inválidos, não há mais esperança, solução e paz. Quando estamos cansados de ser “vilipendiados, incompreendidos e descartados” (Clarisse - Renato Russo) até pensamos que a passagem para o tal lado de lá é a melhor solução; a morte nestas horas é um descanse em paz. Mas creio que até mesmo “na hora de nossa morte” (amém) o corpo ainda luta contra a mente, dizendo: eu quero viver.

Mas o suicídio não é o nosso foco hoje, mas sim o medo da morte. Estou começando a ver – e posso estar completamente enganado, correndo pro lado errado (Engenheiros do Hawaii) – que tudo que fazemos tem em sua essência o medo da morte. Todas as religiões, por exemplo, culminam em céus, paraísos e vidas pós vida. A ciência em toda a correria para aumentar o tempo de vida do homem, adiando a sua morte. O sexo heterossexual na busca da preservação da espécie. Comida e água para mantermos o corpo vivo. Grandes feitos para nos eternizarmos.

A ressurreição do corpo e a não morte da alma são os temas mais comuns entre as religiões, poucos são os aniquilacionistas, em geral quem crê em suas verdades e as seguem, ainda que morra, viverá e talvez nem veja a morte, pois presenciará o triunfo escatológico pertencente a cada crença. Logo, como normalmente estamos condicionados pelo velho e bom capitalismo, começamos o comércio de verdades melhores que as outras, na incansável busca por mais e mais fregueses que procuram os sacros remédios contra a morte. Ainda condicionados pelo partidarismo dizemos que quem não consumir do nosso produto não poderá ter a vida eterna, perecendo em uma morte cíclica.

Será isto mesmo? Se for eu não posso estragar tudo (quanta prepotência!)! Porém, ainda que pense assim, eu morro de medo da morte, mesmo desejando-a muitas vezes. A vida é muito boa para ser “morrida”, aprecie-a sem moderação.


De repente
J.Souza

E de repente você já não está mais ali.
As pessoas estão chorando,
mexendo em suas gavetas,
guardando suas coisas,
trancando seu quarto,
levando suas fotos,
falando baixinho,
recordando bons momentos,
relembrando o último adeus,
pedindo desculpas,
declarando amores.

Ninguém sorri,
todos choram.
Ninguém é ateu,
todos reclamam a Deus.
Uns perguntam por quê.
Outros respondem: Ele sabe.
Uns dizem eu lamento.
Outros: Deus lhe guarde.

De repente o dia acaba.
Uns dormem, outros não.
De repente os meses passam,
uns relembram, outros não.
De repente os anos passam,
uns recordam, outros não.
De repente eles chegam também,
e tudo volta outra vez.

2 comentários:

  1. Ter medo da morte vai fazer com que nos livremos dela?vai amenizá-la de certa forma quando ela chegar?porque ela chega,não adianta chorar,esperniar,ela chega!Ninguém tem poder sobre a morte,independente do seu saldo bancário.
    Eu não tenho medo da morte,proucuro apenas construir boas obras,amar a Deus e ao próximo,ter fé,para que quando a minha hora chegar Deus tenha piedade da minha alma.

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  2. Nada pode nos fazer livrar da morte, contudo fazemos de tudo para adiarmos este momento ou ainda amenizar a chegada a este destino. Dietas, estudos, remédios, esportes, igrejas etc. Creio que até mesmo o "para que quando a minha hora chegar Deus tenha piedade da minha alma" seja uma forma de amenizarmos este momento inevitável (por hora), fazendo-o ficar mais belo e menos doloroso que deve ser.

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