quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O BBB da Religião

O Programa: Várias pessoas o vigiando o tempo todo na expectativa de que você seja o modelo perfeito para elas e os seus, por vezes esperando que você erre e mostre a elas mesmas aquilo que elas também são. Quando isto acontece, elas o desprezam à medida que repulsam seus próprios fantasmas. Neste programa todos são, ao mesmo tempo, brothers e telespectadores. Enquanto telespectadores as pessoas são, geralmente, alienadas e alienadoras; cresceram como filhos alienados que como pais a seus filhos alienaram, ensinando e aprendendo que o mundo fora da religião é mal e não deve ser vivido ou sequer cobiçado, pois ele pertence ao inimigo de deus. 

Enquanto brothers as pessoas são, geralmente, reprimidas; escondem atrás de sorrisos suas tristezas e dos credos suas incertezas. As vidas destas pessoas nem sempre são as melhores, aliás, muitas estão ali em busca de melhoras. Normalmente o maior fracasso é o sexual, seguido por finanças e poder (controle e auto estima). E que comecem os jogos. 

Há um grande mistério na troca de olhares humana – encare alguém por um minuto, sem desviar o olhar, você será tentado a não pensar muito em seus segredos mais ocultos, os quais parecem vazar pelos olhos. Neste reality show trocam-se olhares em todo tempo, olhares atravessados, compadecidos e desconfiados, olhares em espelhos que não são somente câmeras, mas pessoas escondidas atrás deles, refletindo-se em você. À medida que tais espelhos são encarados é possível ver-se em rostos e corpos diferentes.

Os grandes sucessos deste reality ainda são o banheiro e o edredom, principalmente para os mais jovens. Todos juram nunca estarem “solitariamente em um momento solitário consigo mesmos” quando estão no banheiro, assim como juram não estarem “acompanhadas com alguém”, estranho ou não, debaixo do edredom. Mas bastam ter a sensação de estarem invisíveis para driblarem tais situações. Aos solitários em seus banheiros, repudiam; aos acompanhados sob o edredom, abominam. 

O Bial é, hora real, hora fictício. O Bial é um ser feito à imagem e semelhança de cada brother-telespectador. Ele é bondoso e malvado, generoso e retentor, justiceiro e vingativo, permissivo e volitivo, pessoal e transcendente – tudo depende do estado emocional de cada participante. Segundo as regras comunitárias é ele quem tira e põe, permite, omite e decide. 


O paredão, finalmente, é uma escolha feita ao quebrar qualquer uma das regras. Todos, apesar dos pesares, amam os que estão dentro da casa, contudo, abominam mais aos que dela saem do que aos que nela nunca entraram. Estes que escolhem ao paredão, escolhem-no ao fazerem coisas absurdas, como por exemplo, abrir a porta principal na ansiedade de ver o que há além dela, dormir acompanhado em seu edredom ou em outros edredons, ou ainda questionar o Bial e as regras da casa (os maiores dos absurdos). 


O prêmio final (o objetivo principal do confinamento), dizem, é algo incorruptível, dado aos que permaneceram na casa sob os comandos do Bial. Aliás, o Bial também é um confinado. Mas as grandes questões que permeiam secretamente cada pensamento são: e se o prêmio final (será que ele existe?) for dado a todos, tantos aos de dentro quanto aos de fora da casa? 


Quem me dera ao menos uma vez ter de volta todo o ouro que entreguei a quem conseguiu me convencer que era prova de amizade se alguém levasse embora até o que eu não tinha.Quem me dera ao menos uma vez esquecer que acreditei que era por brincadeira que se cortava sempre um pano-de-chão, de linho nobre e pura seda.Quem me dera ao menos uma vez explicar o que ninguém consegue entender, que o que aconteceu ainda está por vir e o futuro não é mais como era antigamente.Ao menos uma vez entender como um só Deus ao mesmo tempo é três, esse mesmo Deus foi morto por vocês. Sua maldade, então. Deixaram Deus tão triste. Índios (Renato Russo)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seus comentários e sugestões são muito bem vindos.