segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O Impacto Social da Religiosidade (parte 1)

O Encontro com a Religiosidade

José era um homem comum. Casado com Patrícia e pai de dois adolescentes, Hugo e Dione. Tomava sua cervejinha, para relaxar fumava dois ou três cigarros de vez em quando – longe dos meninos para não dar mal exemplo. Passava uns apertos com umas continhas aqui, outras ali. Participava do futebol com os amigos, chegava um pouquinho atrasado, mas estava sempre lá. Estava no mesmo cargo havia 15 anos, na mesma empresa. Em algumas datas importantes como o dia das mães, dos pais e natal, José e sua família passavam o dia juntos. Como o colégio dos meninos nunca ligava, para ele o rendimento escolar dos filhos estava sempre muito bem, obrigado. Finalmente não podemos nos esquecer de que José tinha um bom carro, não era do ano, mas estava bem conservado, alugava um apartamento em um bairro não violento de sua cidade, tinha parabólica em casa e um computador desktop para a família. 

Um dia José chegou ao trabalho e conheceu o novo gerente, um jovem (uns dez anos mais novo que ele) que fora transferido da capital para sua cidade. Não era a primeira vez que isto acontecia na empresa nos últimos quinze anos, então José nem se incomodou.

O jovem gerente certo dia fez um convite a José.
- José, você não gostaria de vir com sua família em uma reunião que haverá em minha casa nesta próxima sexta-feira? Agradeceremos a Deus pelo aniversário de minha filha, Vitória, que está fazendo quatro aninhos e depois comemoraremos com um bolo.
- Claro, Sr. Ricardo.
- Não precisa me chamar de senhor, José. Antes de ser seu gerente eu quero ser seu amigo e, aliás, aqui é sua casa há quinze anos. Mas e ai, você e sua família virão?
- Claro que sim. Na sexta-feira a que horas?
- Às 20h.
- Ok. Iremos sim. Obrigado pelo convite.

Sabe o que aconteceu? Os filhos de José e sua esposa ficaram espantados com o convite, o pai nunca saia com os meninos, ainda mais para uma “festinha na casa do gerente”. Mas na sexta-feira eles lavaram o carro, vestiram-se com as melhores roupas, compraram um presente para Vitória – um ursinho antialérgico – e foram até o endereço combinado. Chegando lá ficaram um pouco constrangidos, pois eram os únicos “bem arrumados” do local, mas depois relaxaram.

Logo vieram uns meninos e se aproximaram dos filhos de José, em questão de minutos estavam todos em frente a TV, jogando Guitar Hero. Imediatamente a isto vieram algumas senhoras perguntando o nome de Patrícia e claro, Ricardo havia puxado José até uma roda de homens que falavam sobre futebol e carros, as paixões de José.

- Meus amigos, um minuto de sua atenção. Disse Ricardo, o gerente. Hoje é um dia muito especial para nós, pois celebramos o milagre da vida. A maioria de vocês sabe que há quatro anos eu e minha esposa lutávamos para termos um filho. Ela era estéril. Não procuramos nenhum recurso medicinal, apenas oramos a Deus e ele nos ouviu. Em resposta às nossas orações ele nos deu está linda menina que há quatro anos tem nos dado muitas alegrias. Peço ao pastor Roberto que faça uma oração em gratidão a Deus por mais um ano de vida ao lado desta nossa jóia e ore também por meus novos e preciosos amigos, os quais me deram a honra de sua presença: José, sua esposa Patrícia e seus filhos Hugo e Dione.

O pastor abriu sua bíblia e leu um texto que falava sobre a união da família, os deveres dos pais e filhos e então orou. Após a oração o pastor disse a José e sua família que eles estavam convidados para um encontro que aconteceria na Igreja da Rua 7, no domingo, às 19h. Após isto todos começaram um alegre “parabéns pra você”. Vitória assoprou as velinhas e todos continuaram suas conversas alegres.

Algo novo aconteceu naquela noite. Os filhos de José receberam abraços como se fossem os aniversariantes. Sua esposa conheceu mulheres que a trataram como amigas de longas datas. José sentiu-se livre juntamente com pessoas que ele nunca havia visto antes.
- Nossa, mamãe, como aquela gente é legal. Disse Hugo, o mais velho.
- Sim, viu só filho, são os amigos do papai.
- Você joga bola com eles pai? Perguntou o mais novo.
- Não filho, eles são amigos do Sr. Ricardo, eu os conheci hoje. E é verdade Hugo, eles são muito legais. Acho que são todos da Igreja daquele pastor; ah, pastor Roberto.
No domingo de manhã o telefone toca.
- Alô! José?
- Isto mesmo!
- Aqui é o Ricardo.
- Olá Sr. Ricar. Oh, descuple, Ricardo!
- Bom dia, José. Estou ligando para saber se vocês vão querer ir à Igreja com a gente hoje. Porque se você quiser minha esposa leva a Vitória e eu passo ai para buscar você a Patrícia e os meninos.

A esposa de José escutava em silêncio junto ao telefone e balançou a cabeça aceitando ao convite.
- Claro que iremos – disse José – mas venha com sua esposa no carro e seguimos vocês.
- Ok. Passo ai às 18h30min em ponto. Ok?
- Tudo certo então. Fica combinado assim.
- Tudo bem, que Deus abençoe o domingo de vocês. Até mais a noite.
- Amém. Até. Finalizou José.
- Amém? Disse Patrícia.
- Amém irmã! Brincou José.

Naquele dia os meninos ficaram eufóricos e ansiosos. Patrícia passou a tarde toda passando as roupas e cuidando de suas unhas e cabelos. José cancelou o futebol para limpar o carro novamente. Foi ao banco e sacou R$ 50,00 para comer um lanche com a família após o encontro na Igreja da Rua 7.

Naquele dia o número de pessoas agradáveis havia quadruplicado. Muitas pessoas gentis, mulheres agradáveis, homens sóbrios e alegres, jovens em uma grande roda cantando ao som de um violão.

O pastor havia pregado sobre “O sacrifício de Deus em favor dos homens”. Patrícia demorou a perceber que José estava timidamente chorando e então segurou forte em suas mãos e também chorou. José que havia sido abandonado pelo pai e visto sua mãe morrer com câncer aos dezesseis anos ficara emocionado com a mensagem que apresentava um Pai que amava a todos incondicionalmente e tinha um bom lugar reservado nos céus para todos aqueles que acreditassem em sua palavra. Patrícia também se emocionou com aquele Deus era um pai tão amoroso quanto havia sido o seu para ela e os outros oito filhos.

Os filhos de José ficaram meio dispersos durante a pregação do pastor, porém maravilhados com a banda que apresentou durante aquele encontro. Eles só não entendiam, e às vezes achavam engraçado, o choro da mulher que cantava e falava entre as músicas, mas aquele cara da guitarra e o outro da bateria tocavam demais.

No próximo domingo Dione foi o primeiro a perguntar: hoje iremos novamente pai? Claro que sim, filho – respondeu José. No próximo todos já sabiam qual seria a programação, e no próximo, no outro próximo e todos os próximos domingos.

Dois anos depois estava tudo diferente. A mudança gradual para a família foi drasticamente notada por Carlos, um amigo que a família não via havia dez anos.
- Alô, gostaria de falar com o José.
- Carlos?
- José? Zé?
- Fala meu amigo! Por onde você anda? Quanta saudade. Logo reconheci sua voz.
- Estou aqui em frente ao seu prédio, Zé. Mas o porteiro disse que você se mudou, eu me apresentei e ele me deu seu número novo, Zé. Onde você está morando meu amigo?
- Venha à Rua 9, moro na casa 125, em frente ao Supermercado Havaii. Estarei te esperando na calçada.

Carlos era representante comercial e passou dois dias na casa de José. No dia de sua despedida disse ao Zé sobre o quanto ele havia mudado, o quanto estava diferente, o quanto abraçava mais sua mulher e beijava seus filhos. Como a casa nova era bonita e que seu carro era incrível.
- Você mudou de emprego, Zé?
- Não, Carlos. Fiz uns cursos extras e fui abençoado com algumas promoções, hoje sou o subgerente lá da empresa. E ontem recebi uma notícia ruim e boa ao mesmo tempo. Meu gerente, Ricardo, um anjo que Deus colocou na vida da minha família, vai ser transferido e eu serei promovido a gerente da empresa. Deus tem sido muito fiel à minha família, nada tem nos faltado. Aliás, se você ficasse mais tempo com a gente eu o levaria para conhecer minha Igreja, você iria gostar.

Todas aquelas palavras saindo da boca de José eram muito estranhas: “abençoado”, “anjo”, “Deus”, “fiel”, “minha Igreja”. Um fim de semana com seu amigo sem tomar uma cervejinha, fumar um cigarro e ele nem reclamou que estava apertado com as contas atrasadas. Ele estava realmente bem de vida, tinha TV a cabo com aquele “monte” de canais e os meninos andando com seus notebooks pela casa. Ah, e o Zé dizendo que amanhã iria passar no colégio para pegar os boletins dos meninos? O mais estranho foi ter que sair meia hora antes para chegar ao futebol na hora certa. Não, o mais estranho era ver aquela Bíblia ao lado da TV. E os meninos cantando e tocando violão; como era mesmo a música? “entra na minha casa, entra na minha vida...”. E os abraços nos filhos? E os filhos que antes diziam somente mamãe agora também dizem “papai”!? E os abraços constantes na Patrícia? Aliás, antes era possível ver os seios da Patrícia.

Carlos não entendeu muito bem o que aconteceu na vida de José e sua família, mas concluiu que era bom. Talvez o amigo não conversasse mais sobre coisas tão interessantes e nem participasse mais dos momentos de descontração da turma. Mas seu novo estilo de vida parecia ser um bom modelo a ser invejado e seguido.

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