segunda-feira, 6 de junho de 2011

Não creio neste Deus

"Pois quem não é contra nós, é por nós" (Jesus)

Estou me esforçando para não ficar escrevendo sobre religião, teologia e religiosos, a fim de não ser rotulado como "perseguidor do santo povo de deus" (e nem é minha pretensão), mas é quase inevitável, pois muitos dos "arautos do rei" são chatos em demasia e vivem a me provocar. Para aqueles que não sabem, eu aceitei a doutrina reformada protestante presbiteriana como minha "filosofia" de vida em 2001. Eu tinha 14 anos de muitas deficiências no corpo (um gordinho socialmente desajustado), alma e mente. Aceitei mais o ambiente religioso do que a "religião pura e sem mácula". Fui muito bem acolhido e formatado pelos dogmas, excluí-me do convívio social com os pecadores condenados ao inferno, destaquei-me dentro do grupo, liderei grupos de adolescentes, jovens e estudos, fui para no Seminário a fim de me tornar pastor. Estudei os quatro anos todas "as filosofias, exegeses, hermenêuticas, comunicações, psicologias, antropologias, oratórias, gregos e hebraicos da vida". Formei-me em 2009 com a cabeça cheia de dúvidas e incertezas, mas como dúvidas são opostas à fé e os questionamentos são inerentes ao desprezo, decidi-me por sair do ministério que a pouco começara, em 2010. A saída foi obrigatoriamente perturbadora. E como aquilo que nos une é aquilo que nos separa, perdi todas as relações cujo único laço era a religião.

Um mês depois eu estava novamente empregado, trabalhando no CRAS (Centro de Referênia da Assistência Social), fazendo aquilo que eu realmente achava construtivo; buscando promover à crianças e adolescentes um pouco de saúde e dignidade sem repressão física, moral, espiritual e intelectual. 

Antes que terminasse o meu primeiro mês de serviço, fui chamado para a Universidade Federal de Alfenas (MG) para cursar Bacharelado em Ciências Sociais. Fiquei muito feliz. Fui estudar mesmo sem ter como ser sustentado por meu pai e minha mãe, lavrador e doméstica encostada, respectivamente. Paguei algumas contas e deixei outras (as quais não foram quitadas devidos a pagamentos não recebidos na quebra do meu sacro contrato), paguei o primeiro mês do pensionato e estou aqui, com algumas ajudas e esforços limitados de meus pais, esperando conseguir uma bolsa de estudos que me sustente com o básico necessário.

Mas por que isto tudo? 

Há dois dias um amigo me repassou a seguinte análise de um cristão: eu já vi gente fazer o que o Josimar fez,  abandonaram o ministério e só fracassaram na vida, deram-se mal, assim será com ele. 

O pior é que ouvi desta mesma pessoa: se seu coração diz assim, é a melhor coisa a se fazer, deus estará com você, que deus ilumine seu caminho e te cubra bênçãos.

Há tantos palavrões em minha cabeça neste momento, os quais estão quase vazando pelas pontas dos dedos, que eu mal posso continuar o texto. Este tipo de religioso sempre cria confusões. Está sempre insatisfeito com seus "opositores". É sempre o advogado de deus na terra. É este tipo de religioso que ama as pessoas pelos seus títulos. É este tipo de pessoa que crê em um deus à sua imagem e semelhança e inverte o jogo interpretando a textos religiosos segundo sua própria cobiça. Que este deus que manipula as pessoas, condena todos aqueles que não lambem seus pés e despreza totalmente aqueles que lutam pela dignidade dos desvalidos, exploda-se com seus servos. Quanto a este deus eu já posso dizer: neste deus eu não creio.

Na última palestra que tive, uma antropóloga falava sobre a mania que adquirimos em analisar as pessoas, e eu que já a tinha voltei a pensar: MUITOS religiosos são estressados por estarem sempre se reprimindo e sendo reprimidos, procurando cumprir as regras preestabelecidas pelos intérpretes sagrados. Estes MUITOS religiosos adoecem em suas relações afetivas, familiares e profissionais, culpando consequentemente o eterno inimigo de suas almas, o capeta, pelos problemas com as pessoas que as contrariam. Elas não sabem ser contrariadas, não gostam da oposição, consideram-se a verdade encarnada. Como diria um amigo, estão sempre criando suas egrégoras (do grego egrégoroi, força gerada pelo somatório de energias físicas, emocionais e mentais de duas ou mais pessoas), ou seja, colocam no capeta e demônios a responsabilidade dos problemas que elas criaram e não são capazes de resolver.


Enquanto temos ONGs com pouquíssimos recursos financeiros tentando erradicar desgraças sociais, temos bancos religiosos que vivem em função de adoecer pessoas e sugá-las em nome de deus. O que mais temos no Brasil são igrejas abertas de portas fechadas. Igrejas que pregam amor ai próximo, amparo à órfãos e viúvas, mas não conseguem se quer assistir sua cidade com uma mísera cesta básica (talvez porque comprando uma, desfalcar-se-a a côngrua pastoral). Estas mesmas igrejas costumam ter prédios suntuosos que são usados somente por seus membros aos finais de semana, não prestam qualquer assistência social se quer à rua na qual se localizam. Seus filiados são pomposos, mesmo os mais pobres (os quais muitas vezes se submetem à humilhação e descaso dos membros ricos), e se destacam em meio à miséria da sociedade. Esnobes, arrogantes, presunçosos, mercenários. São a favor da lei e contra os "vícios da carne", mas em seus comércios não faltam pirataria, cigarro e bebida. Lembrando que estou falando "daqueles MUITOS" supracitados.       

Enfim. Se eu "fracassar" na vida será tentando mudar não somente a minha realidade, mas a das tantas pessoas esquecidas pelas tantas outras "equivocadas que fazem mal uso da palavra, que falam, falam o tempo todo, mas não têm nada a dizer" (Charlie Brown).

Eu não sou nenhum opositor de pensamentos a cerca do metafísico. Mas devo dizer que me enfureço facilmente contra aqueles que vivem a condenar os outros ou ainda discriminam "o pecador" em função do seu "pecado". Não tenho nada contra aqueles que aceitam as infalíveis verdades religiosas, mesmo não concordando com elas. Mas as vezes a cegueira é tanta que não percebem estarem matando pessoas ao invés de promover saúde. Uma pessoa abandona o cigarro e o álcool, mas aprende a desprezar o ser humano que pensa diferente, como se ele fosse um animal selvagem.

Agora, como provocador e maldito perseguidor, indico-vos a leitura deste breve texto:

Quais os dois ditados mais populares com manga?

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