segunda-feira, 16 de maio de 2011

Escravos Sociais

Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais... (Belchior)

Ufa! Enfim encontrei um tempo para voltar a este meu recanto feliz. Mentira. Este tempo em que estou escrevendo aqui é roubado do Fichamento de Ciência Política I (risos). Mas como ultimamente tenho "rolado na cama" fazendo paralelos entre o Brasil de 300, 400 ou 500 anos atrás com o atual, tenho que expor aqui o que está nesta minha "caixola" que não desliga. Aliás, talvez eu tenha ficado analítico e reflexivo assim em consequência aos anos de teologia, exegeses, hermenêuticas e preleções. É bom, mas desconfio que cansa mais do que a labuta diária do meu pai na zona rural. Ele deita e dorme feito um bebê, eu deito e fico revirando na cama com o pensamento a mil por hora. Mas vamos lá...

Meu amigo Luciano está a ponto de dar cabo à sua vida por conhecer mais a cada dia sobre a história do nosso Brasil Colônia, Império e República (risos). A salvo dos exageros concluo que realmente é triste ver como o pensamento dos homens de 500 anos atrás era "selvagem". O mundo estava em transformação, passando por várias mudanças radicais; se você ler a história do nosso país verá que ela não foi tão amigável quanto parece ser ante aos bombardeios norte americanos aos países do oriente médio. Houve muito sangue derramado em nosso solo; muito sofrimento; muita gente gananciosa; muita estupidez religiosa; e outras tantas mesquinharias.

A nova historiografia brasileira nos mostra o quanto a visão da maioria dos nossos livros de história no Ensino  Médio é limitada e nos apresenta uma uma meia história ou uma história condicionada - contada na visão dos "vencedores". Desde os tempos coloniais o Brasil foi um país desigual na distribuição de terras; as benditas Sesmarias (salve a "dona Ildani" - minha professora do E.M.) privilegiavam as famílias mais ricas da colônia e do Império Português, delas surgiram as "nobrezas da terra" as quais ainda empurram milhares de brasileiros aos "guetos urbanos" até os dias de hoje. E temos o nosso triste Brasil escravista (escravidão não se justifica). Lá quem a justificava era a fé cristã (além dos interesses políticos): todos aqueles que não tivessem alma poderiam ser escravizados, e, aos descendentes da bíblica maldição de Caim (negros), o sofrimento das fornalhas da cana-de-açúcar deveriam ser vividas com resignação, a fim de alcançarem o favor de deus (p* que pariu).

Os senhores fazendeiros movimentavam toda a economia da colônia. E quem não se lembra dos tais "comerciantes de grosso trato"? Estes tinham múltiplas atividades comerciais (atacado, varejo, empréstimos e manufaturas) e, assim como os grandes bancos dos dias atuais, controlavam o crédito, os quais eram pagos em mercadorias valiosas como ouro e café, por exemplo. Enfim, lembro-me de Cazuza neste momento, pois "eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades". Mas apesar de gostar história, não sou historiador, portanto paro por aqui. Minha questão é outra: fazermos algumas comparações do Brasil do século XXI com o Brasil dos séculos passados.

Ainda temos a usura dos grandes comerciantes/bancos, a concentração de terras e uma escravidão maquiada. O apelo do capitalismo selvagem (acrescido da ganância dos consumidores) leva pessoas e mais pessoas às imensas dívidas a cada dia. É quase impossível ter, nos dias atuais, um "pedaço de terra" onde você possa ter uma agricultura de subsistência familiar. As grande lavouras crescem a cada dia, "expulsando" os pequenos produtores de suas terras, levando-os ao ritmo "industrial" das cidades (pesquise sobre as revoluções industriais). As cidades estão cheias de pessoas que se submetem a longos períodos de trabalho pelas misérias salariais. Aqui estamos ante os novos escravos, o que ganham não chega ao dia 20 do mês. 

Nas cidades menores a coisa é feia, principalmente para alguns prestadores de serviços, como as empregadas domésticas, por exemplo. Muitas se sujeitam aos desgastes do serviço doméstico a troco de menos de um salário mínimo. Como muitas delas não têm outro ofício, submetem-se a tais condições para auxiliarem seus esposos, os quais normalmente também têm uma renda baixa. Caso elas lutem ou reclamem contra, as "alianças sociais" entram em ação e, estas empregadas domésticas, dificilmente conseguirão trabalhar em outras casas. Digo isto porque tenho em minha família muitas mulheres trabalhando como  empregadas domésticas. 

E o que dizer dos "jovens aprendizes" que trabalham como adultos nas oficinas e supermercados? O que dizermos das colheitas de café durante o ano? Você já viu como um bóia-fria trabalha? Assemelha-se aos filmes da escravatura. E por fim, ainda quanto a estes últimos, muitos moram nas fazendas e são pagos com "as compras de fim de mês" ou com outras compras totalmente controladas por seus patrões.

Há algo há pensarmos aqui: diferentemente do que tínhamos em países que passaram por seus apartheids, o Brasil teve uma grande miscigenação cultural e racial. Conseguinte a isto nasceu uma mistura linda de pessoas  diferentes (amo isto em nosso país), mas que socialmente colhem os frutos das desigualdades há muito instaladas. A grande pergunta dos séculos passados ainda nos ronda: estamos legalmente livres, mas como sobreviveremos?

Ainda estamos muito aquém do cumprimento com esmero das nossas leis, as quais devem dignificar o cidadão brasileiro. O governo se empenha para cumprir muitas de suas leis, mas muitas são cumpridas de forma básica e precária - observemos as condições de vários hospitais, policlínicas, postos e ambulatórios. Quanto à justiça (trabalhista principalmente), ela ainda não é acessível o tanto quanto se pensa, além de lenta. A educação de qualidade ainda precisa chegar aos "buracos". O pouco de tempo que trabalhei como Orientador Social do Projovem Adolescente (um programa do Governo Social) me fez ver o quanto as pessoas ainda sofrem e estão distantes dos meios que deveriam dignificar e ascender suas vidas sociais. Não falo em pôr comida no prato dos pobres, mas sim trabalhar para que a próxima geração destes, no mínimo, não viva mais a miséria, não continuem a ser escravos sociais.

Um comentário:

  1. Oi Josimar,
    Eu fiquei realmente emocionada e muito agradecida ao ver com que carinho vc falou a respeito do nosso projeto. Pois este nao e um projeto so meu, e um projeto nosso , que eu fiz ao longo de muitos anos para as criancas iluminadas do meu Brasil, que nao tem nenhuma assistencia especial e muitas vezes sao tratadas com um desrespeito desprezivel!Vamos doar um pouquinho de nos aos mais necessitados, vamos ajudar, vamos fazer!Quando voce ver e sentir o quanto o seu pouco e muito para tantos, este sera sua recompensa! Ajude-nos!NAO VAMOS FAZER CARIDADE, VAMOS FORMAR CIDADAOS!

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