terça-feira, 19 de abril de 2011

A política é o melhor caminho

Faz tanto tempo que eu não escrevo nada, acho que foi porque a TV ficou ligada [...] (Júlio Marassi)

Sei que muitos já torceram o nariz ao ler o título, outros tantos saíram da página antes mesmo da segunda frase. E eu os compreendo. Em um país como o nosso, cuja política está suja, é de indignar-se, inicialmente, que alguém pense assim. Mas como futuro Cientista Social e Político, eu devo pensar um pouco melhor nesta questão e declaro desde então: eu creio na política. Mas não na que presenciamos em nosso país.

Marilena Chauí, uma das pensadoras da Filosofia Brasileira diz que temos alguns paradoxos na forma como entendemos a política. A política foi inventada pelos homens para que pudéssemos demonstrar as diferenças sem o uso da violência, para que a sociedade aprovasse ou não as ações de interesse comum; mas ao contrário disso a política é vista como algo distante da sociedade (que é quem a faz), maléfica e violenta. Ela é vista, atualmente, como um poder do qual somos vítimas, que nos prejudica e só favorece aos interesses dos outros.

Estes paradoxos podem ser observados de formas diferentes, dependendo de como vemos o significado da política. Utilizamos a palavra “política” como sinônima de várias coisas negativas e até mesmo coisas contra as quais a política veio. É através destes paradoxos que temos as definições opostas ao que a política realmente é (ou deveria ser). A política não foi criada como algo para nos atrapalhar, mas sim para organizar e sistematizar a sociedade. A política aparece para organizar poder, origina-se da palavra grega polis, que para os gregos era a cidade organizada e habitada pelos cidadãos, a comunidade organizada. 

A criação da política é um dos pilares da nossa civilização. Através dela criou-se uma nova forma de resolução dos conflitos – você passa a resolver os conflitos sem apelar para a violência. A argumentação ganha lugar ante a resolução violenta - a lei do mais forte - que significava status quo na tradição dos bárbaros. 

Segundo Aristóteles "a palavra é própria dos homens, conquanto a violência própria dos animais". Isto é política, a resolução dos conflitos através da palavra. Freud certa vez disse que "aquele homem que pela primeira vez optou por atacar seu adversário com palavras e não com paus e pedras foi o inventor da civilização".

A política coordena aquilo que é público, de interesse comum. O que nos indigna é vermos nossos governantes governando em favor do privado, privilegiando o que não é público e maquiando a vida pública com bolsas de miséria, uma apologia descarada à miséria (social e intelectual). Entre os gregos a separação entre público e privado era muito rígida, havia uma grande valorização das virtudes públicas. Na sociedade brasileira, por exemplo, a vida pública se mistura à vida privada. 

Por que defendo que a política é a melhor forma de organização do poder? Simples, é que oposto a ela está o despotismo. No despotismo (sistema patriarcal) o poder pertence ao senhor/rei/pai do povo e é passado para os seus familiares (filhos, genros, netos etc). O patriarca, neste caso, era aquele que dominava um grupo de pessoas (redes de famílias, clãs, tribos e nações). O déspota é ao mesmo tempo senhor (rei), sacerdote e capitão (senhor dos exércitos). No despotismo não há o conceito de público. Tudo é privado e pertence ao déspota. Não há o coletivo, não há espaço de igualdade. Não há espaço para a argumentação (o poder é totalitarista), é um poder corporificado (pensa-se que o um poder está no corpo do patriarca) e mágico (os patriarcas são vistos como deuses). Acreditava-se, por exemplo, que bênção e maldição advinham dos déspotas. Eles eram contados como imortais; e quando morriam estavam apenas fazendo uma "passagem de plano".

Não chego ao extremo para dizer que o poder despótico, muito encontrado na monarquia, por exemplo, tenha somente lados negativos, vai que algum povo tem a sorte de ter um patriarca justo e bom (os conhecimentos Éticos e Estéticos, que, segundo a filosofia, unem o bom e o belo). Digamos que a monarquia parlamentarista britânica seja um modelo razoável de junção destes poderes (mas daí teríamos que aumentar a nossa discussão aqui). 

"Bem", temos muito a "filosofar" e comparar sobre as comparações entre o poder despótico e o dos nossos políticos atuais, mas como não estou disposto a isto digo simplesmente que a política é a melhor forma de organização do poder e cuidados com tudo que é público ( senti-me um déspota agora). Os nossos direitos e deveres são responsabilidades da política. O que precisamos então para que a nossa política seja regenerada?

Creio que através de duas coisas. Primeiramente uma mudança lá na base. O ensino filosófico, por exemplo, nunca poderia ser retirado das nossas crianças ou adolescentes. O ensino histórico muito menos. Na formação básica deixamos de aprender tantas coisas, tais como: as leis do nosso próprio país (ou os outros códigos de leis) e, como supracitado, o conhecimento e análise de nossas conquistas e fracassos (que vai muito além de datas e mais datas) tal como o pensar e repensar da vida pública e privada (através da filosofia). Somente assim teríamos uma nova aristocracia intelectual, disposta (não déspotas) a lutar pelo bem comum.

Outra forma de mudança, que aliada à primeira seria o ideal, seria uma reforma política urgente. Se fôssemos uma nação um pouco mais patriota, com certeza já teríamos brigados por uma reforma política, agrária e no código penal, por exemplo. Mas tiraram de nós o direito de pensar e não nos permitiram compreender a própria história. Crescemos com o único objetivo da ascensão social "a todo custo" e nos perdemos em meio ao caos dos déspotas travestidos de políticos.

Algumas coisas que deveriam ser repensadas em nosso sistema político são, o nosso sistema eleitoral, o financiamento eleitoral e partidário, o voto facultativo, a reeleição e mandato dos senadores, a bagunça de coligações, suplência dos políticos (que muitas vezes desconhecemos), necessidade de partidarismo etc.





"não sei se é isto que me ensinaram, mas foi isto que aprendi..."

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