quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Você merece todo aquele amor

Pra você guardei o amor que nunca soube dar.
- Nando Reis


Dependendo do quanto gostamos de nós mesmos, as vezes é difícil nos vermos como merecedores de grandes dádivas.

Talvez este sentimento seja fruto de séculos de autoestima estimulada por dogmas majoritários, tais como os dogmas da Graça Imerecida, da Alma Pecadora sempre merecedora de punição e da grande benevolência dos fantásticos atos salvíficos das diferentes religiões.

É preciso um ato de lucidez semelhantemente extraordinário em nossa mente para entendermos que não merecemos tão pouco afeto na vida. 

Se você já amou profundamente alguém, a ponto de sentir uma felicidade surreal com a felicidade desta pessoa e um incômodo de dar insônia com as tristezas da pessoa amada, mas não foi correspondido em consequência de uma série de fatores que a impediram de receber todo o amor que você tinha guardado para ela (e que era só dela), assim como de receber todo o benefício do seu desejo compulsório de ajudá-la nos momentos ruins...

você sabe o quanto é difícil ouvir e compreender o "não posso", "não quero", "não consigo", "meu corpo quer, minha mente não deixa", "agora não". Você se pergunta: por que não querer receber ou sequer tentar receber todo esse amor?

Por outro lado...


Se você já foi amado profundamente por alguém, a ponto de sentir pena ao ver esta pessoa às mínguas por te amar ou ao vê-la aprendendo a viver feliz e contente somente com as migalhas da sua presença, ou ainda ter que a ver olhando você apaixonadamente, te entregando a chave do próprio coração, ou ainda ficar sabendo que esta pessoa sorri alegremente somente por ouvir seu nome e chora copiosamente ao saber que você não está legal...

você deve saber como é difícil rejeitar um sentimento tão puro e verdadeiro e, consequentemente, deve se questionar o tempo todo: o que eu fiz pra merecer tamanho amor, por que eu?

Você merece receber todo este amor, pois quem te ama o faz porque também precisa te amar.

Você é merecedor de tanto amor, porque se você é amado por alguém, para este alguém você é o ser humano que naquele momento da vida, em todo o universo, é capaz de preencher o vazio de uma solidão constante que não pode ser controlada.
Você é merecedor de tanto amor, não é de graça, você está o produzindo, você é de uma só vez o produto e o produtor.

Para quem te ama, seus hábitos bobos não são defeitos, são o que a faz rir a tarde toda.

Para quem te ama, seus defeitos são como os grãos de areia que nas ostras se transformam em pérolas. Em você, para quem tem ama, seus defeitos serão transformados, mas à sua maneira e não na que ela idealiza pra você. Quem te ama respeita seu processo de crescimento e contribui paciente e sabiamente para que isto aconteça. No entanto, quem te ama também tem forças para te abandonar quando for preciso, para que em meio à solidão ou outros braços menos afáveis, você possa reconsiderar suas atitudes mais prejudiciais. Quem te ama te aceita de volta quando você se resolve.

Para quem te ama é inaceitável que suas características físicas sejam motivo de tentativa de ofensa ou bullyng, pois quem te ama te vê muito além da aparência. Por isso você é sempre a pessoa mais linda do mundo para quem te ama, não importa o quão torto seja seu dente, grande seu ou manchada sua pele. E quem te ama, aliás, está disposto a fazer de tudo para te ajudar a fazer as mudanças estéticas necessárias que você acha que tem que fazer, mas vai primeiro tentar te convencer a não fazer por mais ninguém a não ser por você mesmo.

Você merece desfrutar do amor de quem te ama, até porque, se for como desconfio:

- no mundo em que vivemos é muito difícil recebermos um sentimento tão puro e altruísta;

- os "amores" que recebemos estão carregados de cobranças, medos e conflitos que se repetem;

- este é o único sentimento que nunca se contenta em estar contente (e você é quem alimenta tanto contentamento);

- este é um sentimento mais sublime que a fé.;





Você merece desfrutar do amor de quem te ama ou pelo menos tentar. Ou talvez estejamos todos errados, Freud, Camões o Apóstolo Paulo e eu.

Um comentário:

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