quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Relações Sociais, Liberdade e Egoísmo.

Pra que este nosso egoísmo não destrua nosso coração 
- Será (Renato Russo)


Por mais que eu tente me afastar de relações, seduzo-as e sou abduzido por elas. Na primeira há minha simpatia natural (adaptação corporal para minha sobrevivência social na infância e adolescência) que desarma até ranzinzas (as vezes me pego conversando pacientemente com gente que ninguém mais tolera). Na segunda há toda a atração coerciva que não há como prever ou muito menos fugir, isto porque em nossa espécie a solidão não viabiliza a sobrevivência, mantemo-nos vivos através da família, amigos reais e virtuais (esvaziando os confessionários), colegas, superiores e subordinados (relação profissional). Por isso chamo de abdução, algo violento, imprevisível e incontrolável (e que existe?).

O que me deixa tão temeroso com novas e muitas relações é o poder de controle que elas têm sobre nossa liberdade e privacidade. Lembro-me que na adolescência escrevi um poema após a morte de alguém querido. O poema falava da tristeza de alguém que, em espírito, observava, profundamente triste, a seus familiares e outros tantos desconhecidos bagunçando suas coisas que foram organizadas durante anos, levando "lembrancinhas", lendo seus segredos, seus medos, sonhos e desejos. Revela-me isto que há muito sou assim.

Quando os feromônios me escravizam e logo penso em alguém, sinto-me como um dependente de qualquer outra droga e coloco os pós e contras de seu uso. Percebo, com pouco esforço, que a escravidão seria fatal e que eu não seria mais eu em pouco tempo de uso, mas sim uma pessoa dominada pelo próprio desejo. Liberdade é isso: viver segundo as próprias regras e não impulsionado pelos próprios desejos. Quem vive em função dos seus desejos é um escravo. É assim que vejo os relacionamentos: ópio, vício, dependência. O discurso dos "drogados" é sempre o mesmo: comecei muito cedo, viciei rápido e não tenho forças para parar, ainda que eu queira e saiba que isto está me fazendo mal. 

Contudo, no caso dos relacionamentos, a droga ganha vida e não pode ser rejeitada, torna-se um ser que deve ser respeitado, ainda que faça mal (?). A reciprocidade da dependência é enorme neste caso. Tornamo-nos a droga da droga. Batemos e apanhamos por vício e desejo. Não posso mesmo me dar ao luxo desse vício! Sei que estou na contramão da sociedade e dos meus próprios desejos, mas uma relação tem que ser muito contratual, com tudo muito bem estabelecido antes para que não haja dominação. E se ela houver, que seja também contratual. Se eu pudesse faria um contrato de relacionamento e pediria a todos que aparecessem em meu caminho que o lessem e assinassem-no. Está aí mais uma utopia. Mas é uma boa ideia; não?
   
Talvez haja níveis seguros para o consumo desta droga ou uma maioridade segura para seu uso. Mas enquanto isto permaneço somente nas relações inevitáveis, coercitivas e necessárias (ou seja, em todas, talvez). Nada posso concluir sobre isso, só laborar e elaborar! Eis a condição da minha existência: cogitar.

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