Domingo, 05 de Janeiro, 21h30min. Eu estou sozinho
em casa ao som de Johann Sebastian Bach - Pachelbel's Canon In D Major. As
luzes estão apagadas, a tela do computador está desligada e eu estou deitado na
cama olhando pela janela. Por ela a lua entra iluminando todo o quarto. Ela
está prata, incandescendo uma luz que não é dela. Eu estou a olhando admirado.
Que coisa linda! Parece que ela está pulando sobre aquela pequena e solitária
nuvem.
Meu pai foi dar uma “voltinha”,
como ele diz. Minha mãe e meu sobrinho estão na igreja. Minha irmã saiu com o
namorado. Os cães não fazem barulho algum, a rua está silente. Um grilo, que
seria atormentador, faz harmonia com Bach e a ventoinha do computador. Meus
amigos eu nem sei onde estão.
Meus desejos também estão
adormecidos. Não há programação em minha mente, não há nenhum “Nous faisons beaucoup de marches”
da aula de francês em minha mente. A operadora de internet não responde e não
resolve sua queda de conexão. Não estou com fome, nem com sede. Não sinto sono, nem euforia.
A lua ainda está brilhando, mas ela
se moveu um ou dois centímetros – ou eu me movi e não percebi. Sem roupa, sem
frio ou calor. O telefone não toca. A conexão não volta. Os dedos não estalam e
nenhum osso range quando eu me mexo. As últimas notas de Bach chegaram. Um
violão toca em alguma nota menor, a bateria entra a voz de Cássia Eller pede um pouco mais de
“Malandragem”. O carro do meu cunhado estacionou, os cachorros estão latindo.
Minha mãe apareceu e está espantando os cães que pulam nela. Meu sobrinho entra
correndo, falando bebênês e rindo ao mesmo tempo. Todas as luzes foram acesas. Tudo
voltou...
“Não confie em ninguém com mais de
trinta anos”, toca no player (Claudia). Ligo a tela e vejo que a próxima música
se encaixaria perfeitamente se fosse a primeira: Talking to the Moon (Bruno
Mars)...
Mas e daí?
Quem vai se importar com
isto?
Até minha cabeça está desligada e não se importa.