sexta-feira, 24 de outubro de 2025

COP30 e a urgência da sustentabilidade no marketing: reflexão

 A Conferência das Partes, a COP, é o órgão máximo de decisão da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Ela reúne anualmente os países signatários para implementar os compromissos de combate à crise climática. 

Em 2025, a COP30 será sediada em Belém, no coração da Amazônia brasileira.

Para além das negociações diplomáticas, este evento global oferece uma lente de aumento para as empresas, especialmente as de marketing, sobre como a sustentabilidade e os critérios ESG (Ambiental, Social e Governança) estão redefinindo a sociedade de consumo.


O que é a COP 30 e por que ela é relevante para o mercado?

A UNFCCC foi aberta para assinatura na Rio-92 e inaugurou o regime multilateral de resposta ao aquecimento global. Este regime se baseia no princípio das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”, onde países desenvolvidos devem liderar os esforços de redução de emissões e oferecer recursos (financeiros e tecnológicos) para nações em desenvolvimento.

Os debates na COP se estruturam em cinco pilares fundamentais:

  • Mitigação: redução das emissões de gases de efeito estufa;
  • Adaptação: capacidade de se ajustar aos efeitos atuais e esperados da mudança do clima;
  • Financiamento: mobilização de recursos para ações climáticas;
  • Tecnologia: desenvolvimento e transferência de tecnologias limpas;
  • Capacitação: fortalecimento de habilidades e conhecimentos.


Além disso, a agenda atual inclui temas críticos como:

- perdas e danos;

- transição justa;

- gênero;

- povos indígenas;

- juventude.


Relevância para o marketing

A pauta da COP traduz as maiores preocupações globais e da Geração Z, informando as expectativas de consumo. 

As marcas que não endereçam estes pilares, especialmente a mitigação e a transição justa, arriscam a reputação e a fidelização de consumidores.


Algumas lições da COP30 para o marketing que podemos esperar

O marketing moderno não pode mais tratar o ESG como um checklist de compliance. Ele precisa ser a própria espinha dorsal da narrativa da marca. Podemos esperar alguns desafios para este setor após a COP 30:


1. Transparência e responsabilidade no clima

O Acordo de Paris, adotado na COP21 em 2015, inovou ao exigir que todos os países apresentem periodicamente suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), detalhando as ações climáticas que pretendem realizar. A implementação destas ações é acompanhada por um regime reforçado de transparência.

Lição: as empresas devem adotar a mesma transparência. 

As promessas de sustentabilidade (green claims) precisam ser baseadas em dados concretos (como os relatórios do IPCC)  e serem verificáveis. O greenwashing é rapidamente desmascarado por consumidores que buscam um regime reforçado de transparência.


2. A evolução da experiência: do digital ao físico (sustentável)

Enquanto a COP discute a crise climática no mundo físico, as empresas estão migrando do digital para o presencial. A expansão da Netflix com as “Netflix Houses” – parques temáticos permanentes em Dallas e Filadélfia – é um exemplo dessa busca por pontos de contato físicos altamente envolventes.

Lição: a experiência de consumo presencial deve ser inerentemente sustentável. Não basta ter um produto digital; a presença física (varejo, gastronomia e entretenimento)  precisa refletir os valores do ESG. Isso pode ser feito por alguns pilares:

  • Pilar Ambiental (E): o local físico deve ter uma pegada de carbono neutra ou negativa;
  • Pilar Social (S): garantir a inclusão, acessibilidade e promover uma transição justa em sua cadeia de valor;
  • Pilar de Governança (G): assegurar que os parceiros (fornecedores de alimentos, construtoras) sigam as melhores práticas.


3. Integrando a cultura: gênero, juventude e povos originários

O regime climático da UNFCCC tem ampliado o foco para incluir temas de justiça social e grupos vulneráveis.


Lição: o conteúdo cultural de uma marca deve refletir os valores da COP. As campanhas devem ser inclusivas e abordar a diversidade (gênero, juventude).

A marca deve respeitar os direitos e o conhecimento de povos originários e comunidades tradicionais, especialmente em cadeias de suprimentos que dependem de recursos naturais.


Em suma, a COP30 sinaliza que o sucesso empresarial na próxima década dependerá da capacidade de alinhar a estratégia de marketing e ESG com as urgências climáticas e sociais do mundo real

Marcas que transformam a sustentabilidade em uma experiência real, imersiva e transparente, serão as que verdadeiramente conquistarão a fidelidade do consumidor moderno.